Boa parte do futuro da economia mundial será definido nos pouco mais de três meses que nos separam das eleições nos Estados Unidos. Ou seja, volte o republicano Donald Trump (derrotado em primeira tentativa de reeleição em 2020) ou vença a democrata Kamala Harris (atual vice-presidente, provável candidata), seus investimentos terão caminhos diferentes a percorrer na tentativa de se multiplicarem.
Favorito nas casas de apostas, e líder nas pesquisas ao menos até Joe Biden tirar o time de campo, Trump é visto, hoje, como sinônimo de mais juros ao longo dos anos.
Em sua retórica, estão promessas no sentido contrário. No entanto, há uma grande distância entre a teoria e a prática. De concreto, o que se tem até aqui são planos de aumento de tarifas de importação, com impacto inflacionário óbvio. Outro foco de aumento de preços, via salários, seriam deportações em massa, reduzindo a já escassa mão de obra disponível nos Estados Unidos. Além disso, os cortes de impostos previstos pelo ex-presidente tendem a aumentar o rombo fiscal americano ao longo do tempo, fazendo investidores exigirem mais juros em troca de financiar a Casa Branca.
Eles têm risco fiscal
E se haverá contágio da inflação americana, também mais juros tendem a ser necessários no Brasil em eventual vitória de Trump. Nesse cenário, portanto, ainda que a inflação brasileira esteja colaborando no retrovisor, a Selic pode encontrar obstáculos para cair. Algo, aliás, semelhante ao que já tem acontecido sob incertezas sobre quando as taxas americanas vão começar a cair.
Nesse sentido, a situação fiscal americana pode acabar se sobrepondo à brasileira. Digamos que, nos próximos meses, o governo brasileira ofereça maior segurança a investidores do que tem provido. Se lá nos Estados Unidos o cenário for de deterioração, “babau” queda de juros.
E, sob Trump, expectativa é elevação da dívida pública americana acima do que poderia acontecer com um adversário democrata.
Na comparação entre os presidentes desde 2001, ele foi o que mais desequilibrou a balança de gastos e arrecadação. A dívida que já ultrapassa os 100% do PIB do país, também pode reforçar uma alta de taxas.
Com a ameaça de aumento dos juros, Andrade destaca que a a renda fixa ainda oferece o melhor risco-retorno, tanto no Brasil como ao investir lá fora. Por ora, ativos de risco como a bolsa ficam de fora das recomendações dele.
A vitória de Trump, que tem um discurso (e teve um governo) protecionista, também favorece o dólar. Portanto, a segunda dica do especialista é manter uma parte da carteira dolarizada. Isso quer dizer: investir na renda fixa americana ou buscar ações lá fora que tenham potencial de ganhos. Dessa forma, o investidor brasileiro pode se proteger de uma desvalorização brusca do real.
E o exterior, boa ou má pedida sob Trump?
Para Alexandre Mathias, economista e estrategista-chefe da Monte Bravo, ponto para empresas de bolsa ligadas a armamento e gastos militares, além de farmacêuticas. “Também se fortaleceria o setor de exploração de petróleo com menor ênfase nas políticas ambientais“, afirma.
Apesar do cenário pró-juros, portanto, a bolsa americana não deve ser descartada, mas repensada. Se agora têm brilhado companhias de tecnologia, sob Trump faria sentido rotacionar para a chamada “velha economia”. Ainda na renda variável, criptomoedas poderão se valorizar ainda mais com a vitória de Trump. Logo após o atentando, quando as chances de ser eleito cresceram, o bitcoin teve valorização de 10%.
Trump é reconhecidamente pró-cripto e até confirmou presença na Bitcoin Conference, que acontecerá entre os dias 25 a 27 deste mês, em Nashville, no Estado americano do Tennessee.
O republicano anunciou ainda o senador J.D. Vance como vice na sua chapa. O congressista investidor de criptoativos tem atuado diretamente na elaboração de uma legislação que favoreça a adoção das criptos nos Estados Unidos.
E se Kamala Harris vencer?
A corrida eleitoral está longe de terminar (novembro), mas já trouxe uma série de reviravoltas. Não bastando a tentativa frustrada de assassinar Trump, que parece aumentar seu favoritismo, tivemos a desistência de Biden. Foi reacendida, dessa forma, a esperança entre os democratas, para quem a disputa já parecia perdida. Em lugar, deve assumir a candidatura oficialmente em agosto Kamala Harris.
Trump, hoje, faz o mercado tremer mais nas bases. E não só por suas promessas já conhecidas, listadas aqui, e sua conhecida imprevisibilidade. Mas também porque uma vitória democrata, goste-se ou não, tenderia a ser uma continuidade do governo Biden.
Resumindo a ópera
Muitas águas ainda vão rolar daqui até novembro, mas alguns conceitos já podem ser incorporados pelos investidores. Por um lado, Trump é mais protecionista e tende a valorizar o dólar. Por outro, Kamala é mais liberal e tende a favorecer moedas emergentes. Trump, portanto, tem potencial maior que o de Kamala de produzir e exportar inflação e juros altos.
Confira a reportagem na íntegra publicada no Valor Investe: ler aqui.