Escolha encerra uma semana de incerteza sobre a posição crucial para o controle econômico e monetário do próximo governo. Indicação ainda deve ser aprovada pelo Senado
O presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, nomeou o gestor de fundos de hedge (ou fundos de cobertura) Scott Bessent como secretário do Tesouro. Os fundos de hedge focam em estratégias complexas e alavancadas para maximizar retornos a seus cotistas. São veículos que tendem a ser mais arriscados e podem incluir no portfólio ativos variados, incluindo criptoativos, dos quais Bessent é um entusiasta.
Se o Senado confirmar a indicação de Trump, Bessent se tornará o 79º chefe do Departamento do Tesouro dos EUA, cuja missão é promover condições econômicas e monetárias que permitam o crescimento e a estabilidade do país.
O departamento também é responsável pela gestão das finanças públicas e pelo combate às ameaças à segurança nacional, protegendo a integridade do sistema financeiro.
A escolha encerra uma semana de incerteza sobre a posição crucial e voltada para o mercado. As disputas internas dentro da equipe de transição de Trump haviam se tornado públicas durante o processo de seleção, com o CEO da Tesla e conselheiro de Trump, Elon Musk, tendo se manifestado contra Bessent.
Quem é Scott Bessent?
Com histórico extenso no mercado financeiro americano, Bessent, de 62 anos, vinha advogando pela sua indicação ao cargo de secretário do Tesouro junto a Trump. O republicano já havia chamado o seu agora indicado de “um dos homens mais brilhantes de Wall Street”.
Mas Bessent só se tornou um franco apoiador de Trump e um poderoso arrecadador de fundos para o candidato republicano nesta última campanha após julgar que provavelmente a venceria, de acordo com agências de notícias internacionais.
Isso não significa que ele estava antes afastado do então candidato republicano. Ao longo do caminho, Bessent mediou discussões econômicas entre Trump e agentes do mercado financeiro, incluindo em questões sobre o papel do Federal Reserve (o Fed, banco central dos EUA), déficit fiscal, tarifas e o dólar.
Nesses temas, ele frequentemente traduziu o que parecem ser políticas econômicas radicais para a linguagem do republicanismo tradicional.
Bessent fundou e atualmente preside a empresa de investimentos Key Square Group. Nos anos 1990, trabalhou para o megainvestidor George Soros e foi, segundo o The Wall Street Journal, “uma das forças motrizes” por trás da famosa aposta da Soros Fund Management em 1992 de que a libra esterlina entraria em colapso. A posição contra a moeda inglesa rendeu a Soros US$ 1 bilhão à época.
Agora, o bitcoin e o mercado cripto como um todo estão na mira de Bessent.
“Estou entusiasmado com a adoção [de Trump] de criptos e acho que eles se encaixam muito bem com o espírito do Partido Republicano. Criptoativos têm a ver com liberdade, e a criptoeconomia veio para ficar”, disse em entrevista ao canal Fox Business em julho deste ano. “A criptografia está atraindo jovens, pessoas que não participavam antes, para o mercado.”
A decisão deve reforçar a crença de que o mercado de criptoativos deve ganhar impulso neste governo Trump, por se tratar de uma agenda prioritária diante dos nomes que vêm endo apontados para cargos-chave na composição do mandato.
Desde a sua vitória, no começo de novembro, o presidente eleito dos EUA declarou mais de uma vez que vai flexibilizar a regulação para o mercado cripto e até criar reservas oficiais de bitcoin. Assim, o bitcoin, a maior criptomoeda em valor do mundo disparou 43%. A capitalização de mercado beira os US$ 2 trilhões.
Assim como Trump, Bessent já defendeu a tarifação de importações como uma forma de aumentar as receitas e proteger as indústrias americanas.
O peso do cargo
“O mais importante da nomeação de Trump para o Tesouro americano será o grau de convicção da pessoa em implementar medidas tarifárias mais radicais que foram discutidas durante a campanha do então candidato republicano. Se o secretário for alguém mais pragmático, pode-se desenhar uma situação mais favorável, de dólar não tão forte, e as Treasuries [títulos públicos dos EUA] podem trabalhar em níveis mais baixos que os de hoje. Seria um cenário mais benigno para mercados emergentes”, ponderou Bruno Benassi, analista de ativos na corretora Monte Bravo, em entrevista antes da confirmação de Bessent ao cargo.
De acordo com a Bloomberg, já há sinais de que Bessent conseguiu empurrar Trump para posições mais favoráveis ao mercado financeiro do que ele expressou na campanha eleitoral.
Isso pode acalmar os nervos em Wall Street enquanto o presidente eleito avança com algumas das políticas econômicas mais arriscadas que prometeu como candidato, como tarifações e cortes de impostos potencialmente indutores de déficit.
Notícia publicada no Valor Investe.