A apresentação do pacote fiscal pelo governo Lula, que deve ficar para depois das reuniões do G20, é o fator mais importante para a melhora dos ativos domésticos atualmente. É muito mais importante que os desdobramentos do novo governo de Donald Trump nos Estados Unidos para países emergentes, por exemplo. A avaliação é de Alexandre Mathias, estrategista-chefe da Monte Bravo, que recebeu o Broadcast Investimentos na sede da corretora, em São Paulo, para falar sobre as expectativas por uma melhora no cenário para investimentos no Brasil.
“Falamos muito do Trump, mas o pacote fiscal é muito mais importante que o Trump. O pacote fiscal define o nosso destino. Com um pacote bom, mesmo com um Trump agressivo, a gente em um porto seguro. Com um pacote ruim, mesmo com um Trump amigável, a gente vai estar em crise. Então o que é realmente importante é o pacote fiscal”, afirma Mathias. Ele observa que a demora pela divulgação das medidas tem um custo que o governo parece ainda não ter entendido, perdendo a credibilidade, e que o mercado “está no modo show me the money”.
Enquanto esse pacote fiscal não vem, o posicionamento dos portfólios na Monte Bravo tem sido conservador, conta o estrategista. “Como está demorando demais, o risco está alto. Vindo um pacote bom, aí sim devemos apostar nos ativos brasileiros”, diz. Ele avalia que, com um cenário fiscal construtivo, a Bolsa pode andar para 145 mil pontos até o fim do ano e 160 mil até março de 2025.
Mathias diz querer “apostar a favor” do governo, mas ainda precisa ver as medidas fiscais que serão tomadas e menos ruído, além da retomada da coordenação da economia pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, de maneira “serena”. “Se isso acontecer, o câmbio volta, os juros caem e o risco diminui, e ficaremos bem, porque o resto da economia brasileira está muito bem”, afirma. Mas se o pacote fiscal decepcionar, Mathias brinca que o Brasil vai para o 7 a 1: 7% de inflação, R$ 7 de câmbio e 1% de crescimento.
Para o estrategista, “Lula ouviu maus conselheiros e por isso colheu os maus resultados”, com o mercado estressado pela mudança nas metas fiscais e embates com o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. Mas, agora, Haddad está apresentando o cenário completo para o presidente e, eventualmente, ele chegará ao entendimento de que “não há outra alternativa” senão a validação do ajuste fiscal, segundo Mathias. “A confusão foi didática. O câmbio a R$ 5,80 mostrou potencial da crise.”
Ele acrescenta que a “atuação firme” de Gabriel Galípolo [próximo presidente do BC] em um “ambiente complexo” tem desempenhado uma função importante no processo de recuperação da credibilidade monetária. “Agora esperamos as respostas [do governo] para recuperar a credibilidade fiscal”, diz o estrategista.
No entanto, no que diz respeito à alocação de portfólio em meio a essa espera, Mathias destaca ser importante não tentar fazer stock picking ou market timing, e sim pensar a longo prazo e estrategicamente. “O bom investidor é aquele que tem um plano estratégico e não se deixa contaminar pelas emoções da conjuntura. O mau investidor é aquele que acha que sabe o que vai acontecer e tenta ficar acertando o ‘cavalo vencedor’ todo dia”, afirma.
Jogador de tênis, Mathias traz um exemplo do esporte para ilustrar sua colocação. Ele conta que o famoso tenista suíço Roger Federer levou 54% dos pontos disputados ao longo de sua carreira – Federer, que foi justamente um dos melhores. “Me chamou a atenção porque há estudos de finanças que mostram que os melhores traders acertam em torno de 54% das apostas. São os que vivem disso, que acertam muito”, observa Mathias. Assim, para o investidor geral, ele reforça que é mais interessante pensar no longo prazo, e com estratégia e diversificação.
Entrevista publicada na plataforma Broadcast, confira abaixo: