ELEIÇÃO PRESIDENCIAL – ECONOMIA AMERICANA
É impossível dizer quem será o vitorioso nas eleições americanas. O que se sabe é que os mercados acompanharam o movimento das casas de apostas que apontam um favoritismo do ex-presidente Donald Trump. O resultado disso é que, desde o fim de outubro, o dólar tem se fortalecido, enquanto as taxas de juros atingiram o ponto mais alto em três meses.
Contudo, é importante lembrar que, historicamente, o mercado de ações dos Estados Unidos apresenta um bom desempenho após as eleições. Nos últimos 80 anos, somente em três ocasiões, a bolsa não registrou ganhos entre o período eleitoral e o fim do ano. A explicação está no fato de que o mercado costuma seguir a economia e os fundamentos das empresas, sem se apegar aos ruídos inerentes às campanhas eleitorais.
Muita coisa está em jogo nesta eleição, e com efeitos sobre o mundo todo. Inflação, imigração, aborto e política externa estão entre as questões centrais. Mas a composição do Congresso americano será fundamental para determinar a extensão com que as propostas poderão ser implementadas.
Vale dizer que os EUA têm um sistema eleitoral arcaico, no qual o presidente é eleito por um Colégio Eleitoral, onde 538 delegados eleitorais se reúnem para eleger o presidente algumas semanas após o voto popular. Em 2016, por exemplo, Hillary Clinton recebeu cerca de 2,7 milhões de votos populares a mais que Trump – mesmo assim, perdeu a eleição.
Já no Congresso, as pesquisas indicam alta probabilidade de que o Senado fique sob o controle Republicano, enquanto a Câmara tem um quadro indefinido, com pequena vantagem dos Democratas. Na prática, Kamala Harris, se eleita, deve seguir o desenho geral das políticas econômicas de Biden, sem grandes alterações no status quo. Mas, e se Trump vencer?
A expectativa é de que se tenha uma política comercial mais dura, menos regulamentações e um relaxamento das regulações sobre mudanças climáticas. Trump apresentou uma agenda econômica populista que afirma garantir empregos penalizando empresas que transferem operações para o exterior. Nesse cenário, as ações de empresas ligadas a armamento e gastos militares e as farmacêuticas tendem a ser favorecidas, assim como o setor de exploração de petróleo com menor ênfase nas políticas ambientais, juntamente com os criptoativos.
A questão é que as propostas de Trump, mais protecionismo e restrições à imigração, podem levar a um menor crescimento e a mais inflação. Trump propôs tarifas de 60% sobre produtos da China e de 10% a 30% para outras regiões. Caso sejam colocadas em prática, essas propostas podem reduzir o crescimento do país em 1,4% e elevar a inflação em 0,9% ao ano. De acordo com o Penn Wharton Budget Model, da Universidade da Pensilvânia, o plano de Trump adicionaria US$ 5,8 trilhões em deficit ao longo de uma década, em comparação ao montante de US$ 1,2 trilhão de Harris.
Além disso, sob o comando de Trump, a política de imigração proposta removeria pelo menos 1,3 milhão de pessoas dos Estados Unidos, o que traria uma forte escassez de mão de obra e pressão nos preços. Um estudo do Peterson Institute for International Economics estimou que esse choque levaria a uma alta de 1,5% na inflação e a uma queda de mais de 3% do Produto Interno Bruto (PIB) em três anos.
Mas uma coisa é o que os candidatos dizem e outra, o que o eleito faz efetivamente. Por isso, a expectativa dominante é de que, na prática, as propostas sejam amenizadas e parametrizadas para não terem consequências tão negativas. Trump é reconhecidamente um negociador agressivo e usa isso como alavancagem para obter concessões – nessa linha, os mercados supõem que a maior parte dessa retórica seja uma arma eleitoral e negocial.
Os fundamentos econômicos apontam que a economia dos EUA está em processo de aterrissagem com a inflação convergindo, o que permite ao Fed reduzir os juros. Não é do interesse de nenhum presidente entornar o barco que está navegando para um porto seguro.
Mesmo que as propostas sejam amenizadas, no entanto, a vitória de Trump, provavelmente, implicará em menos fluxos para países emergentes, o que joga ainda mais importância sobre o pacote fiscal que o ministro da Fazenda brasileiro, Fernando Haddad, está preparando – sem um pilar fiscal sólido, existe o risco de o dólar seguir em alta, ultrapassando R$ 6 em curto espaço de tempo e gerando uma crise econômica grave.
Artigo de opinião publicado no Correio Braziliense.