Após sete anos, a participação dos bancos públicos no mercado de crédito voltou a aumentar, segundo o Banco Central. A fatia dessas instituições no total de empréstimos do país passou de 42,3% no fim de 2022 para 42,8% em dezembro de 2023. Ao todo, cerca de R$ 2,5 trilhões da carteira de financiamentos foram emprestados por bancos estatais.
Embora discreto, o avanço observado em 2023 representa um ponto de inflexão relevante. Afinal, a fatia dos bancos controlados pelo governo vinha diminuindo ano a ano desde o impeachment de Dilma Rousseff (PT).
O pico de participação deles, de 56,8% do crédito total, foi alcançado justamente no último mês da petista no cargo – maio de 2016. Passou a diminuir já nos meses seguintes, no governo de Michel Temer (MDB), e seguiu em baixa na gestão de Jair Bolsonaro (PL).
A fatia dos bancos públicos seguiu crescendo em 2024. Em fevereiro, ela chegou a 43,2%, segundo dados publicados nesta terça-feira (2) pelo Banco Central.
Segundo especialistas consultados pela Gazeta do Povo, dois fatores principais contribuíram para o aumento na participação dos bancos públicos. São eles a expansão do crédito direcionado, como o crédito rural e o imobiliário, em que os bancos públicos tradicionalmente têm participação relevante; e e Light, que limitaram o crescimento na concessão de crédito por parte das instituições privadas.
O saldo de crédito direcionado – empréstimos concedidos principalmente por bancos públicos a empresas e pessoas físicas com finalidades específicas e geralmente com taxas de juros subsidiadas – aumentou 11,9% no ano passado, aponta o BC. Em fevereiro, ele já correspondia a R$ 2,4 trilhões, ou 42% do total do mercado.
Em 2023, as concessões de crédito direcionado para o campo cresceram 10,8%, atingindo R$ 322,1 bilhões, destaca o BC. “O bom momento da agropecuária justifica essa situação”, afirma Santacreu. , impulsionado por uma safra excepcional de 322,8 milhões de toneladas.
O setor imobiliário, que depende muito do crédito direcionado dos bancos públicos, também teve um bom momento. A carteira de financiamentos de imóveis com recursos direcionados aumentou 12,8% em 2023, totalizando R$ 1,1 trilhão em janeiro.
Segundo um levantamento da Associação Brasileira das Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc) e da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), as vendas de imóveis novos cresceram 29,2% entre janeiro e novembro de 2023, comparado ao mesmo período do ano anterior. O crescimento foi impulsionado por imóveis de médio e alto padrão e pelo programa Minha Casa, Minha Vida, que representou 48,5% do valor total de vendas nos 11 meses.
Mercado privado de crédito
A carteira de crédito das instituições financeiras privadas encerrou 2023 em R$ 3,3 trilhões, 7% a mais em relação a 2022. Esses números poderiam ser mais robustos se não fossem os problemas em grandes empresas.
Dois dos mais importantes foram com a Americanas, que registrou um rombo de R$ 43 bilhões, e pela Light, concessionária de energia no Rio de Janeiro. As duas empresas entraram em recuperação judicial.
O aumento no número de recuperações judiciais em 2023, que, também complicou a concessão de crédito por bancos privados. O total de pedidos de recuperação foi o maior desde 2020 e o quarto maior da série da Serasa Experian, iniciada em 2005.
“Este cenário fez com que os bancos privados moderassem a concessão de crédito e se tornassem mais seletivos”, afirma Luciano Costa, economista-chefe da Monte Bravo. As instituições foram obrigadas a reconhecer as perdas, o que exigiu capital que poderia ter sido direcionado para concessões de novos empréstimos.
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