Os dados do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) divulgados nesta sexta-feira, 10, selam as expectativas dos investidores de uma trajetória de alta da Selic ao longo de 2025 – sem espaço para um Banco Central leniente. Com o estouro da meta de inflação de 3% em 2024, Gabriel Galípolo chega ao posto de presidente do BC com a difícil tarefa de já ter que se explicar e com a perspectiva dos investidores de que terá de conduzir com mão dura a política monetária para ancorar as expectativas de inflação e controlá-la.
Segundo Nicolas Borsoi, economista-chefe da Nova Futura Investimentos, na média de três meses anualizada, é possível notar a significativa deterioração da qualidade da inflação: a média dos núcleos subiu 5,8%, os industriais subjacentes avançaram 2,2% e os serviços subjacentes saltaram 8,3%, a maior alta desde novembro de 2022.
“Os dados de hoje dão sinais de uma contaminação inicial do varejo pela depreciação cambial, especialmente em alimentos e industriais, enquanto o mercado de trabalho aquecido começa a pressionar os serviços subjacentes, em um processo de reinflação bastante disseminada”, diz. Borsoi ainda não vê uma aceleração no ritmo de alta da Selic à frente, mas ressalta que o trabalho do BC será duro. “O Copom [Comitê de Política Monetária] vai ter que apertar um pouco mais o discurso.” A projeção do IPCA de 2025 da casa é de 5,5%,, com possível revisão para cima.
Em linhas gerais, a leitura de economistas é de que o IPCA até veio conforme o esperado em dezembro, mas trouxe uma composição pior. Há alguns atenuantes para o desempenho, como a reversão da deflação da Black Friday, mas a leitura é praticamente unânime: o nível de preços da economia está se fortalecendo. “São números que nos deixam bastante desconfortáveis no que diz respeito à composição da inflação”, afirma Andrea Damico, economista-chefe da Armor Capital.
A âncora fiscal fragilizada no Brasil, somada a uma inflação resistente e desancorada, é o que deve exigir do BC uma postura ainda mais atenta aos próximos passos da Selic, com pouco espaço para um ciclo menos apertado de juros ou para uma comunicação menos assertiva. Para Luciano Costa, economista-chefe da Monte Bravo, a deterioração do cenário inflacionário levará a mais duas elevações da Selic de 50 pontos-base nas reuniões de maio e junho, com uma taxa terminal de 15,25% ao ano.
“O balanço de riscos assimétrico, aliado à fragilização da âncora fiscal, continua demandando uma postura firme do Banco Central. Isso reforça a sinalização de manutenção do ritmo de alta de 100 pontos-base nas próximas duas reuniões”, diz o economista.
Na visão de Eduardo Velho, economista-chefe da gestora Equador Investimentos, o câmbio é um personagem essencial no processo de endurecimento da inflação e deve continuar com protagonismo conforme se fortalece a moeda americana ante o real – um movimento que depende tanto do exterior, quanto da visão dos agentes de mercado para o risco fiscal. O principal resultado da alta do dólar é o recrudescimento do grupo de alimentos dentro da inflação, que também se fortalece por causa da atividade forte.
Por ora, o economista mantém sua previsão para o IPCA de 2025 em 5,87%, com um câmbio médio de 5,85 reais por dólar. Ele também calcula um impacto do câmbio para o IPCA – o chamado “pass-through” – de 12% a 15%. E reitera: “A inflação ainda vai surpreender em 2025 se esse câmbio não mudar de patamar de forma mais sustentável”, diz.
Matéria produzida pela Veja Negócios.