
O dólar gira atualmente em torno de R$ 5,70. Para entender se esse valor será uma tendência, ou se há chances de alteração do cenário com a guerra tarifária do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e uma possível trégua na guerra da Ucrânia, o Diário do Comércio procurou especialistas para analisar a evolução e as tendências do câmbio da moeda norte-americana frente ao real.
Para o diretor de Operações da Ourominas Investimentos, Elson Gusmão, essa cotação tem sido realmente o novo normal, embora possa ter uma variação, dependendo do sentimento dos investidores, principalmente dos estrangeiros.
Na análise de especialista, com a taxa de juros dos EUA se mantendo elevada por mais tempo, o fluxo de capital que poderia vir para o Brasil atraído pela diferença de juros, acaba sendo menor. Com menos entrada de dólares, a cotação tende a subir. “O mercado tem estado atento a essas sinalizações do Trump”, afirma.
O economista-chefe da Monte Bravo, Luciano Costa, acredita que parte do movimento de apreciação do real frente ao dólar desde o início do ano tem a ver com a percepção do mercado de que Trump tem usado as tarifas como um objeto de negociação e não necessariamente como uma guerra comercial aberta. “Isso diminui o receio em relação ao uso das tarifas de uma maneira lateral, diminuindo um pouco a força do dólar”, avalia.
Além disso, ele observa que há uma mudança de percepção em relação ao impacto das tarifas na economia americana. Há hoje, segundo Costa, um consenso de que as tarifas vão gerar menos crescimento na economia dos EUA, o que acarretaria um diferencial do crescimento em relação aos outros blocos menores, o que geraria um dólar também enfraquecido.
Luciano Costa entende que, se Trump permanecer com uma postura mais intransigente e mais fechado às negociações, provavelmente isso levará novamente a uma deterioração da percepção de risco, proporcionando um movimento de volta de fluxos de investimentos para a economia americana, gerando de novo um dólar forte.
“Estamos vendo, agora, exatamente o oposto disso. O mercado saiu dos ativos do dólar e veio para os ativos das economias emergentes, seguindo a percepção de que o risco ficou menor. Como nos ativos em dólar os ganhos estavam menores, buscou-se alternativas, por isso, acredito que a guerra tarifária, ainda tem potencial para gerar uma pressão maior”, afirma.
A economista Paloma Lopes, da Valor Investimentos, ressalta que não há como ter uma previsão do dólar a longo prazo e que “não dá para cravar que R$ 5,70 é o novo patamar”. Para ela, o mercado está lidando com a tarifa do dólar a curto prazo. Ela avalia que as movimentações de Trump são propositais no intuito de desestabilizar a economia mundial.
“As supertarifas do Trump que serão anunciadas fazem parte de uma grande cortina de fumaça. Ele impõe a tarifa, depois ele tira a tarifa para que realmente dê uma balançada no mercado, que é o objetivo dele. A cada momento surgem novas tarifas, surgem novas falas extremamente radicais, o que afeta o Fed (Federal Reserve), com as posturas do Fed, afetando automaticamente a cotação do Brasil”, explica.
Dessa maneira, de acordo com as análises, os mercados globais focam suas atenções às expectativas para o dia 2 de abril, quando o presidente dos EUA pretende anunciar uma série de tarifas recíprocas, já indicadas anteriormente.
Trégua na guerra da Ucrânia também pode afetar o câmbio
Sobre a possibilidade de trégua da guerra da Ucrânia e a possível interrupção na alta do dólar, o diretor de Operações da Ourominas Investimentos, Elson Gusmão, acredita que a questão já está sendo precificada nos mercados.
Já o economista-chefe da Monte Bravo, Luciano Costa, entende que a possível trégua reduz a pressão sobre as moedas, principalmente, de países emergentes, porém, aqueles que têm alguma receita vinculada ao petróleo podem sofrer alguma pressão no sentido contrário, dado que a receita fica menor.
Costa explica que uma trégua no conflito impactaria a questão do preço do petróleo, que poderia ficar mais baixo. “Dessa forma, os países que exportam o produto podem ter alguma pressão nas moedas. O Brasil hoje é um exportador líquido de petróleo. Então, por um lado, o petróleo cair, não ajuda o País na parte de balanço comercial, mas ajuda na questão da inflação”, pondera.
Entretanto, na visão de Costa, o cenário local guiará mais a cotação do dólar no Brasil ao longo do ano do que o cenário internacional. Para ele, o patamar de R$ 5,70 só se mantém se não houver mudanças da percepção de risco fiscal do País.
Ele acredita que duas questões podem impactar e aumentar o risco Brasil. “Por um lado, a perda de arrecadação que o governo vai ter com a desaceleração da economia. E por outro, a questão da tramitação da isenção do Imposto de Renda. Ela tem um apelo grande do ponto de vista eleitoral, mas as compensações ficam mais duvidosas. Com isso, o governo pode ter uma deterioração do risco fiscal novamente”, alerta.
Nesse sentido, Costa avalia que a tendência do câmbio é aumentar novamente, atingindo patamares em torno de R$ 6, com projeção de fechar o ano a R$ 6,30. “Por isso achamos importante sempre lembrar do fator doméstico. Se o risco fiscal piorar, que é o que imaginamos, a tendência é o câmbio voltar a depreciar”, afirma.
Matéria publicada no Diário do Comércio – MG.