O Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu manter a taxa de referência de juros, Selic, a 10,50% ao ano, novamente, repetindo o movimento visto em junho, quando interrompeu o ciclo de cortes de juros. Após sete reduções, que levaram a taxa de 13,75% para 10,50%, a autoridade monetária assumiu uma postura mais cautelosa.
O comunicado destacou a força da inflação de serviços, a desancoragem das expectativas de inflação por período mais prolongado e a desvalorização do real entre os motivos para se manter conservador.
“A conjuntura atual, caracterizada por um estágio do processo desinflacionário que tende a ser mais lento, ampliação da desancoragem das expectativas de inflação e um cenário global desafiador, demanda serenidade e moderação na condução da política monetária“, diz o texto.
Em outro trecho o comitê entende que “as conjunturas doméstica e internacional exigem ainda maior cautela na condução da política monetária”.
Sobre o ambiente global, a autoridade monetária considera “adverso” e menciona as incertezas sobre os impactos do afrouxamenteo monetário nos Estados Unidos. Em relação ao cenário doméstico, o comitê menciona o “conjunto dos indicadores de atividade econômica e do mercado de trabalho segue apresentando dinamismo maior do que o esperado”.
O comunicado voltou a mencionar o impacto do cenário fiscal nos ativos, o que dificultaria o processo desinflacionário. “Uma política fiscal crível e comprometida com a sustentabilidade da dívida contribui para a ancoragem das expectativas de inflação e para a redução dos prêmios de risco dos ativos financeiros, consequentemente impactando a política monetária”, destaca.
Participaram da reunião: Roberto de Oliveira Campos Neto (presidente), Ailton de Aquino Santos, Carolina de Assis Barros, Diogo Abry Guillen, Gabriel Muricca Galípolo, Otávio Ribeiro Damaso, Paulo Picchetti, Renato Dias de Brito Gomes e Rodrigo Alves Teixeira. A decisão foi unânime.
A concordância ou dissonância entre os membros tem sido uma preocupação para o mercado, porque dá pistas de como poderá ser a nova gestão do Banco Central, com um presidente indicado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Para alguns investidores, o receio é de que a autoridade monetária passe a priorizar uma agenda política em detrimento do combate à inflação. Campos Neto deixa o cargo em janeiro.
Na reunião anterior, de junho, a decisão para manter a taxa foi unânime,, trazendo uma mensagem de conforto para os mais desconfiados. De lá para cá, o comitê teve que considerar outras variáveis para chegar a essa decisão e ajustar o plano de voo.
O que mudou?
Além da “prévia da inflação” acima do esperado, os economistas que contribuem para o Boletim Focus revisaram, semana a semana, um índice de preços maior para 2024 e 2025, que seria o “horizonte relevante” para o Banco Central. Isso significa que os efeitos da política monetária de hoje só deverão ser sentidos no ano que vem.
De acordo com a especialista, a mudança mais preocupante foi o nível do câmbio. O dólar é um importante vetor inflacionário, por isso, quando sobe demais, preocupa o comitê, uma vez que tende a elevar os preços. Nos últimos 10 dias, a média móvel do câmbio foi de R$ 5,62. À época da última reunião era de R$ 5,30.
O economista e estrategista-chefe da Monte Bravo, Alexandre Mathias, afirma que houve uma deterioração nas principais condicionantes da inflação. “Vimos um impacto de 6% a mais no câmbio. As expectativas para inflação este ano foram de 4% para 4,10%; para 2025, saiu de 3,80% para 3,96%”. Para completar o cumprimento das metas fiscais ficou incerto”, disse.
Ele argumenta que o risco fiscal é responsável por parte da desvalorização do real. A outra parte da alta do dólar se deve aos juros altos nos Estados Unidos.
De acordo com Mathias, da Monte Bravo, para que haja uma virada de perspectivas, apontando para novos cortes, seria preciso a confluência de três fatores: corte de juros nos EUA, fim do ruído em torno da sucessão do BC e redução da incerteza sobre o cenário fiscal.
Nos 45 dias que separaram as duas reuniões, houve o anúncio de redução de R$ 25,9 bilhões em despesas obrigatórias. Mas, em seguida declarações do presidente Lula colocaram em xeque a competência do governo para cumprir o arcabouço fiscal. Recentemente, o governo informou corte de R$ 15 bilhões para se manter dentro da meta fiscal.
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