O dólar não para de subir. Na terça-feira (16), a moeda chegou ao pico de R$ 5,2873, antes de fechar cotada a R$ 5,2697, com alta de 1,64%, na maior cotação desde março do ano passado. Dentre os motivos estão a escalada de tensão entre Irã e Israel, as mudanças no quadro fiscal do Brasil e a economia ainda aquecida nos Estados Unidos, que atrasa cada vez mais o início do ciclo de corte de juros por lá.
Segundo especialistas, a tendência é que a divisa americana permaneça em patamar elevado, o que pode ter impacto na economia real, desde o preço dos alimentos até o custo das passagens aéreas.
Do frete de caminhão à passagem de avião
No fim de semana, o Irã atacou Israel com drones e mísseis, numa espécie de resposta ao bombardeio ao consulado do Irã em Damasco, na Síria. Israel, que não assumiu nem negou a autoria da incursão, disse que planeja revidar.
Autoridades do mundo todo ficaram alarmadas, com medo de que a guerra entre os países ganhe escala, envolva outras nações e ainda afete o comércio de petróleo. O preço do barril de Brent, no entanto, permanece estável, a US$ 90,02.
Tanto a alta da commodity, quanto a do preço do dólar podem encarecer o preço dos combustíveis no Brasil e, por consequência, elevar o custo do frete e dos produtos transportados pelas rodovias do país.
O valor das passagens aéreas também poderia ficar mais alto nesse cenário, já que as companhias de aviação teriam custos maiores. Segundo a Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear), cerca de 60% das despesas das aéreas é de itens dolarizados, o que inclui gastos com combustíveis, manutenção, entre outros.
A Petrobras se mantém em compasso de espera para entender o cenário mundial antes de fazer qualquer reajuste. Na segunda-feira, a defasagem do preço da gasolina no país em relação à cotação internacional estava em torno de 19%, de acordo com a Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom).
Impacto de alta persistente
O Boletim Focus divulgado nessa terça apontou uma queda das projeções da inflação de 2024 de 3,76% para 3,71%. Em contrapartida, elevou a previsão do dólar para o fim do ano de R$ 4,95 para R$ 4,97.
Para Luciano Costa, economista-chefe da Monte Bravo, o dólar deve se manter em patamar elevado, por volta de R$ 5,10, pelo menos até julho, quando prevê o início do ciclo de corte de juros nos Estados Unidos.
Foco na economia americana
Costa aponta que a mudança na meta fiscal no Brasil ajuda a aumentar o cenário de incertezas, afugentando investidores estrangeiros.
O governo propôs que o resultado fiscal de 2025 seja zero, o que significa que as despesas serão iguais às receitas, ao invés de um superávit para o ano que vem. Em resposta, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, reagiu afirmando que uma “âncora fiscal menos transparente aumenta o custo da política monetária”.
Mas a mudança na política fiscal não deve afetar o mercado por mais dias, avalia Costa. O que preocupa mais é quando os Estados Unidos começarão a cortar juros. Os dados do varejo americano vieram acima do esperado esta semana, indicando que a economia segue aquecida.
Se no início do ano havia otimismo de corte na taxa no segundo trimestre, não há mais. Falas constantes de membros do Federal Reserve apontam para a necessidade de dados consistentes que mostrem que a inflação está controlada para começar a redução dos juros nos EUA. De acordo com a ferramenta do CME Group, mais da metade dos analistas consultados acreditam que a taxa vai se manter no atual intervalo de 5,25% a 5,5% até a reunião de julho.
Fuga de investimentos
Na prática, o juro alto nos Estados Unidos, país que é considerado a economia mais segura do mundo, acaba atraindo investimentos de outros países, que optam por alocar em títulos do governo americano. A saída de dólares do Brasil faz com que a reserva da divisa diminua e o real se desvalorize.
Nesse sentido, Luciano Costa, da Monte Bravo, avalia que os exportadores podem trazer uma parte do caixa alocado no exterior para “ganhar” a variação cambial, o que poderia ajudar a equilibrar o câmbio. Esse movimento, todavia, depende de decisões independentes de cada empresa.
— Quem mandou dinheiro para fora com câmbio a R$ 4,90, agora consegue fazer a internalização a quase R$ 5,30, uma taxa bem mais atrativa — opina.
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