“O nosso case é de um cenário global benigno”, afirma ao Broadcast.
Os bons ventos internacionais são os principais chamarizes ao ingresso de fluxo para o Ibovespa, na avaliação do estrategista-chefe da Monte Bravo, Alexandre Mathias. Apesar de o Índice Bovespa ter iniciado outubro em queda – fechou a primeira semana com desvalorização de 0,71% -, ele diz esperar que os próximos meses e a primeira parte do ano que vem serão positivos para a o principal indicador da B3. “O nosso case é de um cenário global benigno”, afirma ao Broadcast. As condições da economia brasileira também devem amparar o quadro estimado pela Monte Bravo, principalmente em razão do crescimento da atividade. “A maior parte das variáveis vai bem ou está funcional. Tem uma peça completamente fora do lugar que é o fiscal”, diz. “A trajetória da dívida é explosiva. Mas o fiscal está dado, é só não piorar.”
Leia abaixo os principais pontos da entrevista:
Broadcast: Quais as razões que o levam a estimar o Ibovespa indo aos 145 mil pontos no final deste ano e aos 160 mil pontos em meados de 2025?
Alexandre Mathias: O nosso case é de um cenário global benigno. Costumo dizer que o Brasil é um copo meio cheio, meio vazio. O externo está indo bem e aqui a economia, também. A inflação está sob controle. A maior parte vai bem ou está funcional. Tem uma peça completamente fora do lugar que é o fiscal. Isso torna o copo meio vazio. Mas até o fim do ano vemos um cenário predominantemente favorável, com os juros caindo em doses de 0,25 ponto porcentual até 3,5% nos Estados Unidos. O mercado exagerou quando estimou queda de 0,50 ponto das taxas. A economia americana está fazendo um pouso suave, e vai seguir nessa trajetória, com a inflação caindo devagar rumo à meta de 2%. Uma outra perna que ajuda o cenário doméstico são os estímulos na China. O governo chinês partiu para um modo de ação mais firme. Neste sentido, todo mundo espera mais medidas de apoio neste e no outro ano. Talvez a China ainda cresça em torno de 5% em 2025 [a meta do governo]. Para o médio e longo prazos, tem o problema do setor imobiliário e a estratégia de exportação principalmente nessa onda de carros elétricos.
Broadcast: Em que magnitude a piora fiscal no Brasil impacta o apetite do investidor, principalmente estrangeiro?
Mathias: A condição fiscal é ruim. O País tem uma dívida cara e crescente. Mas o fiscal está dado, é só não piorar. O déficit projetado no Focus vai acontecer. Quando o gringo decide comprar ativos de países como o Brasil, já sabe do risco alto. A questão é que a dívida aqui está um pouco pior. Mesmo na segunda divisão, o Brasil se sai bem. Quando vier fluxo, o câmbio aprecia a R$ 5,20. Com isso, a perspectiva melhora. O resultado primário não deve melhorar no ano que vem, mas a variação vai diminuir. À medida que avaliarmos o calendário e olharmos para frente, veremos uma inflação apontando para a meta, isso abrirá espaço para corte de juros em 2025.
Broadcast: Além do fiscal, quais outros fatores são riscos ao cenário da Monte Bravo?
Mathias: O desfecho da eleição americana. Se o Donald Trump vencer e cumprir o que prometeu, como aumento de impostos [tarifa geral de 10% sobre as importações e uma tarifa de 60% ou mais sobre as importações da China], terá impacto na economia mundial. Outra variável de risco é o conflito geopolítico no Oriente Médio, que, se piorar, pode comprometer a produção de petróleo do Irã. Isso segura o fluxo. A expectativa é que isso dissipe.
Broadcast: Qual a projeção da Monte Bravo para a Selic neste ano e no seguinte?
Mathias: Esperamos duas altas de 0,50 ponto porcentual neste ano, com a taxa a avançando 0,25 ponto no início de 2025. É uma Selic que chega ao final do ciclo em torno de 12%. Será um movimento técnico, um ajuste fino. Depois começa a cair no terceiro trimestre, indo a 10,25% até o fim de 2025 por causa de uma acomodação da atividade, expectativa de um impulso fiscal menor. Isso poderá fazer a convergência da inflação, até porque uma Selic de 12,00% e uma inflação de 4,00% é um juro real para ninguém botar defeito.
Broadcast: No primeiro dia de outubro, a Moody’s elevou a nota de crédito do Brasil para BA1 e manteve a perspectiva positiva. A decisão foi na direção correta?
Mathias: Fiquei chocado com o upgrade da Moody’s. A trajetória da dívida brasileira é explosiva e deve bater 82% do PIB no ano que vem. Se o País está neste nível de déficit e com a economia crescendo acima do seu potencial, era para estar em direção à meta. O argumento da Moody’s vai na direção inversa à nossa. Nem sei mais o que esperar. Tudo o que representa gastos ganha uma atração imediata neste governo. Uma série de despesas que crescem acima do limite. Só vai conseguir respeitar o limite se as despesas crescerem menos. Em alguns momentos, o governo falou que trabalharia pelo menos no ritmo do teto do arcabouço. Seria a direção correta. O ministro Fernando Haddad tem tentado, mas o presidente Luiz Inácio Lula da Silva não vê isso [corte de gastos] com muita simpatia. O mandato do presidente pode terminar sem jamais ter alcançado um superávit, isso é muito preocupante.
Broadcast: Qual a expectativa da corretora com a nova gestão do Banco Central a partir de 2025, sob o possível comando do agora diretor de Política Monetária, Gabriel Galípolo?
Mathias: O Galípolo fez um trabalho muito bem feito de ganhar a credibilidade do mercado. Tem sido o membro com o tom mais duro e um vocal de inflação na meta. Nenhum governo quer perder o controle da inflação. O Banco Central está imbuído de levar a convergência da inflação à meta. Isso também é um dos fatores a manter nosso otimismo nos próximos três meses. O Galípolo está se diferenciando muito do Alexandre Tombini [presidente do BC de 2011 a 2016].