Levantamento da ComDinheiro identificou os papéis mais rentáveis entre agosto de 2014 e agosto deste ano; ao todo, 36 companhias superaram o retorno da renda fixa
Esta semana deve marcar a retomada de alta da taxa Selic no Brasil, enquanto nos Estados Unidos (EUA) terá início um ciclo de queda de juros. A mudança no cenário doméstico favorece os ativos de renda fixa e, teoricamente, colocaria as ações da bolsa em segundo plano. Mas, quando se olha o rendimento de longo prazo de alguns papéis do mercado acionário, é possível rendimentos surpreendentes.
Levantamento realizado pela ComDinheiro, a pedido do E-Investidor, mostra que 36 ações listadas no Ibovespa, principal índice da B3, conseguiram ultrapassar a rentabilidade do Certificado de Depósito Bancário (CDI) num período de 10 anos. Em tempos de Selic a dois dígitos, o CDI, que tende a acompanhar o movimento da taxa básica, torna-se uma referência de retorno mínimo exigido pelos investidores, principalmente para os ativos de renda fixa.
A pesquisa levou em consideração tanto a rentabilidade do papel na Bolsa quanto os pagamentos de dividendos. Por essa avaliação, as ações da PetroRio (PRIO3) foram o grande destaque. Entre agosto de 2014 e agosto deste ano, enquanto o CDI entregou um retorno de 143, 16% no período, a ação da petroleira rendeu aos seus investidores surpreendentes de 3. 506, 54%.
Os papéis da Equatorial (EQTL3) e da Raia Drogasil (RADL3) apareceram em seguida no ranking de rentabilidade, com retornos de 747, 1% e de 717, 3%, respectivamente. Bancos, empresas ligadas a commodities e até outras varejistas, como a Magazine Luíza (MGLU3), conseguiram superar o CDI no período.
“As empresas saudáveis conseguem performances acima do Índice de renda fixa. Ou seja, a robustez da companhia em si e como ela enfrenta os ciclos econômicos ajudam ater um desempenho superior à média do seu setor”, diz Filipe Ferreira, diretor da Nelogica e responsável pela plataforma Comdinheiro.
O desempenho dessas ações destoa do retorno do Ibovespa no mesmo período. De acordo com a análise da ComDinheiro, enquanto 36 ações alcançaram rentabilidades acima de 143, 16%, o principal índice da B3 avançou 141, 59%. A razão para essa diferença de performances, segundo analistas, está na composição da carteira teórica do Ibovespa.
PELO CAMINHO. Cerca de 36% das ações que integram o índice são de empresas ligadas a commodities, que têm elevada volatilidade por serem suscetíveis aos ciclos econômicos globais. Há também o peso no índice do setor financeiro, que enfrentam desafios com a ascensão das fintechs. “O Ibovespa tem um série de empresas que vão ficando pelo meio do caminho por serem mais suscetíveis aos ciclos econômicos ou problemas dos setores. Eventualmente, empresas menores que ainda estão se testando entram no índice e machucam um pouco o resultado”, ressalta Ferreira, da Nelogica.
A expectativa de queda de juros nos Estados Unidos deve aumentar o apetite ao risco dos investidores estrangeiros, que devem passar a buscar mais oportunidades em mercados emergentes, como o Brasil. Desde que os investidores passaram a projetar a queda de juros a partir deste mês nos EUA, já houve uma reação e o saldo do capital estrangeiro na B3 voltou a ficar positivo no ano.
Com a perspectiva de recuo nas taxas americanas no radar, julho e agosto registraram captações líquidas (diferença entre saque e aportes) de R$ 7, 3 bilhões e R$10 bilhões, respectivamente, na B3, beneficiando o Ibovespa, que fechou agosto com alta de 6, 5%. Diante esse movimento, a corretora Monte Bravo acredita que o Ibovespa poderá superar o CDI nos próximos 12 meses. Sua projeção aponta para um retorno de 17, 6%, enquanto o CDI deve ficar em torno de 11, 3%.
“Os ativos brasileiros vão se beneficiar do fluxo estrangeiro por conta dos cortes do Fed. No entanto, a incerteza fiscal continua mantendo o risco Brasil elevado, o que limita uma arrancada mais forte dos ativos domésticos”, afirmou a corretora em sua carta a investidores de setembro.
RENDA FIXA. O retorno do ciclo de aperto monetário deve favorecer os ativos de renda fixa atrelados à Selic, que ficam mais rentáveis à medida que as taxas de juros sobem. Isso significa que o fluxo de capital dos investidores tende a ir em direção a esses ativos. Já o mercado de ações costuma ser penalizado pelo ambiente econômico desfavorável, que pode impactar os resultados operacionais das companhias, e pela busca dos investidores por retornos maiores no curto prazo. Mas, como ensina o megainvestidor Luiz Barsi, construir uma carteira de investimentos com base apenas nesta ótica de curto prazo não garante retornos satisfatório.
A reportagem foi publicada no Estadão.