O Comitê de Política Monetária do Banco Central (COPOM) elevou a taxa básica de juros da economia em 1 ponto porcentual, na noite de quarta-feira (11), aumentando a Selic para 12,25% ao ano. A medida ficou acima do esperado pelo mercado, segundo projeção divulgada no mais recente boletim Focus, que estimava uma alta de 0,75 ponto porcentual. Mesmo com os juros nesse patamar, é possível encontrar ações do Ibovespa que podem pagar dividendos acima da Selic.
O E-Investidor encomendou um levantamento da Economatica para saber quais são esses ativos. A lista é liderada pela Cemig (CMIG4), que pagou 18,64% do seu valor de mercado no acumulado dos últimos 12 meses.
A segunda colocada foi a Petrobras (PETR4), com um dividend yield (rendimento em dividendos) de 14,99% nos últimos 12 meses. Já a terceira da lista foi PetroRecôncavo (RECV3) com um rendimento de 14,23% do seu valor de mercado em proventos.
A lista segue com as ações preferenciais da Petrobras (PETR3) com um rendimento de 14,21% em dividendos, JBS (JBSS3) com proventos de 12,76% e da Auren (AURE3) com dividendos de 12,58%. O levantamento considera os dividendos pagos nos últimos 12 meses até o dia 6 de dezembro de 2024 em relação ao valor da ação em dezembro de 2023, um ano antes.
O grande questionamento que fica para os próximos 12 meses é se essas ações podem continuar pagando dividendos competitivos em relação à Selic. Em meio ao atual ciclo de alta de juros, o próprio Banco Central já sinalizou que vai subir a taxa em 1 ponto porcentual nas duas próximas reuniões. Desse modo, a taxa de juros deve chegar ao patamar de 14,25% em março de 2025.
Ou seja, para o próximo ano, o ideal seria o investidor buscar um dividendo igual ou superior aos 14,25% anunciados pelo Copom para março de 2025. No entanto, os especialistas ouvidos pelo E-Investidor estimam que dificilmente essas ações podem ter um dividend yield no nível de 14,25%.
Cemig deve pagar dividendos acima da Selic?
Segundo Ricardo Salim, analista da Lumi, nenhuma das empresas da lista atual tende a pagar dividendos iguais ou superiores à Selic projetada para março de 2025. Ele começa a explicar os motivos pela campeã do ranking, a Cemig. A companhia adotou uma estratégia de venda de participações em ativos considerados não estratégicos, como transmissoras e distribuidoras. Essa abordagem resultou em uma significativa entrada de recursos financeiros, permitindo o fortalecimento das reservas destinadas à distribuição de dividendos.
“Essa estratégia viabilizou pagamentos superiores à geração operacional de caixa, marcando uma política de dividendos excepcional em 2024. Embora a Cemig mantenha uma operação sólida, é crucial destacar que o volume elevado de dividendos distribuídos nesse período reflete majoritariamente os impactos das vendas de ativos, e não exclusivamente o desempenho operacional, o que deve fazer com que essa distribuição massiva não se repita em 2025”, aponta Salim.
Frederico Nobre, gestor de investimentos da Warren, tem a mesma visão. O especialista estima que a empresa deve pagar cerca de 11,3% do seu valor de mercado no próximo ano após a massiva distribuição de dividendos. “A empresa foi uma grande pagadora de dividendos e o papel é atraente para o investidor. Todavia, ela não deve manter o mesmo ritmo desse ano em 2025”, explica.
Como ficam os dividendos da Petrobras?
A segunda colocada da lista, a Petrobras, divide a opinião dos analistas ouvidos pela reportagem. Para Bruno Benassi, analista de Ativos da Monte Bravo, a Petrobras deve pagar cerca de 12% do seu valor de mercado em dividendos nos próximos 12 meses. Na visão do especialista, a empresa terá uma boa geração de caixa com um lucro atraente para o investidor.
No entanto, alguns fatores devem fazer com que o rendimento em dividendos da Petrobras não chegue à marca da Selic estimada pelo mercado para 2025. “Vemos a empresa realizando um aumento no investimento nos próximos anos em relação a 2024. Além disso, o preço do barril de petróleo apresenta um cenário de queda para o próximo ano, o que deve fazer com que o lucro da empresa não cresça tanto”, explica.
Ricardo Salim, da Lumi, defende a mesma tese. Ele relata ainda que a empresa deve pagar um dividendo interessante para o investidor. Isso porque uma alavancagem confortável e uma robusta geração de caixa são fatores que proporcionam um sólido suporte para a distribuição de dividendos. Todavia, o especialista diz que isso não será suficiente para o pagamento de proventos acima de 14,25%, pois para isso, o preço do petróleo precisaria estar operando em um patamar elevado e não por volta dos atuais US$ 72 por barril.
Já Frederico Nobre, da Warren, é o único a dizer que a Petrobras deve pagar dividendos acima da Selic em 2025. Ele ressalta que, embora o valor de investimento seja considerado alto, a empresa “alongou o prazo”. Ou seja, vai investir a mesma quantia em maiores prestações. A medida tende a desafogar o fluxo de caixa da empresa, o qual pode ficar livre para dividendos. Nobre calcula que a estatal deve pagar cerca de 16,2% do seu valor de mercado em dividendos nos próximos 12 meses.
Em relação à terceira colocada, somente Frederico Nobre afirma que a PetroRecôncavo pode entregar um rendimento de dividendos de 15,50% nos próximos 12 meses, ou seja, superior aos 14,25% já projetados pelo Banco Central. Ele ressalta que a companhia está com caixa líquido livre, baixo endividamento e com poucos investimentos para serem feitos. “Isso deve gerar um grande pagamento de proventos ao investidor que busca lucrar acima da Selic”, detalha.
Os demais analistas estão céticos sobre a distribuição de dividendos da PetroRecôncavo acima do patamar de 14,25%, justamente pelo atual baixo preço do petróleo. Em linhas gerais, somente a Warren enxerga que duas ações podem superar o valor da Selic: Petrobras e PetroRecôncavo. Nesse sentido, existe uma possibilidade de ganhar acima dos juros básicos na renda variável, mas ela não é defendida pela maioria dos analistas.
De modo geral, o investidor deve entender que ganhos passados não garantem ganhos futuros e encontrar ações que pagam dividendos acima da Selic é uma tarefa árdua, mas não impossível.
Matéria produzida pelo E-Investidor (Estadão).