Por Rodrigo Franchini, Sócio e Head de Relações Institucionais da Monte Bravo
Caro leitor,
Escrevo este artigo para contextualizar o porquê de um mercado tão volátil e receoso – se assim podemos dizer – nos últimos dias, sobre a crise na Evergrande. Então, vamos lá!
Seria por conta de ventos contrários ao livre mercado vindo da China? Talvez o medo de um efeito cascata ocasionado pela segunda maior incorporadora chinesa? Ou ainda por mais um pronunciamento do FED? Covid? Ou apenas o Brasil, que já bem conhecemos?
Eu poderia dizer que devemos ir por partes, porém, nessa história, tudo é parte de algo, o que ajuda a confundir muito mais esse cenário caótico.
Vamos iniciar com a segunda maior economia do mundo: a China
O país já demonstrou em outros momentos a sua aptidão para interferir nos mercados globais. Já aconteceu no setor de tecnologia, educação, entregas e, hoje mesmo há uma polêmica com relação às Criptomoedas. Segundo órgãos reguladores da China, e o Banco Central Chinês, a transação com a moeda virtual é ilegal e não será aceita no país. A China chegou mesmo a proibir a mineração de Criptomoedas em território nacional. Isso por si só, já seria o suficiente para uma oscilação perante os mercados. O medo de novas intervenções faz com que investidores repensem como investir em um mercado tão proeminente como esse, porém com tantos riscos regulatórios.
Ao passo, que ficou escancarada uma crise interna vinda um império empresarial com ramificações em toda a Ásia. Mas chamar a Evergrande de império não seria um exagero? Não, e eu explico o porquê.
A Evergrande é a segunda maior incorporadora chinesa, emprega mais de 200 mil pessoas, e gera mais de 3 milhões de empregos indiretos. A empresa se orgulha de ter atualmente, mais de 1,3 mil projetos imobiliários, em 280 cidades no país. E a atuação do conglomerado chinês vai além do ramo imobiliário: a empresa passou a explorar parques temáticos, bens de consumo, veículos elétricos e possui até um time de futebol, entre outros negócios.
Acredito que agora ficou mais clara a magnitude do problema, certo? No total, a Evergrande tem passivos financeiros na ordem de US$ 305 bilhões. E, nos últimos dias, tornou-se evidente a sua incapacidade de honrar com esses compromissos.
Em frente a esse cenário da Evergrande, o mercado deu o seu aviso
Derrubou as ações da empresa em mais de 80%, trazendo a realidade de que um efeito cascata estaria por vir. Mas será que os grandes bancos regionais, somados aos bancos europeus também estariam expostos de maneira exagerada? Talvez a possibilidade de um calote inevitável pode ocasionar uma quebra global. Vale lembrarmos a quebra do Banco de investimentos Lehman Brothers, a grande crise de 2008.
No entanto, a situação agora é diferente. Em 2008, a crise se instaurou pois os bancos americanos sempre foram divisões financeiras globais, possuindo contraparte em todos os bancos mais relevantes do mundo. Já a Evergrande tem atividades restritas à China, e, portanto, a “contaminação” seria menor.
Dito isso e feito essa ressalva, precisamos entender quais são as possibilidades para uma eventual saída honrosa dessa crise. Uma possibilidade clara e objetiva teria um socorro estatal por parte do Partido Comunista Chinês. Injeta-se dinheiro, inclusive como eles já fizeram nos últimos dias, visando diminuir o risco da contraparte, os movimentos de liquidez e honrar os pagamentos de curto prazo, na tentativa de evitar um default e um efeito inadimplente imediato.
Porém, e se esse socorro, acabasse passado uma mensagem errada localmente?
O quer quero dizer é o seguinte: o governo não quer passar um recado de que podem errar, assumir um risco maior do que podem cumprir, ou até se alavancar. A ideia é que o socorro aconteça aos poucos, de maneira paliativa e que seja feito para honrar os compromissos pontuais e mais curtos. Essa semana, inclusive, vence um valor de mais de US$ 83 milhões. E ainda não se tem clareza se será pago. Pois a empresa tem um prazo de 30 dias de carência. Só que a simples falta de transparência sobre esse pagamento, já foi o suficiente para que a ação da Evergrande despencasse mais 10%.
Em resumo, os mercados não gostam de ventos contrários à retomada econômica. E isso ainda se soma às questões americanas e europeias em relação ao ritmo de crescimento, com indicadores mostrando uma desaceleração. Não podemos deixar de colocar na conta o movimento de retirada de liquidez por parte do FED – Banco Central dos EUA – no seu programa de estímulo, que ainda injeta US$ 120 bilhões ao mês. Está bem claro que no máximo, no início de 2022, esse movimento será diminuído e um movimento de juros ficaria mais concentrado para o último trimestres do ano, com ramificações mais severas em 2023.
Conclusão: enxerga-se no horizonte de médio prazo, um aumento de juros na maior economia do mundo, os EUA. Isso não assusta os mercados, até porque essa elevação já estava nos preços. O que ainda é uma incógnita é a velocidade e a magnitude desse movimento.
E no contexto local, em que devemos ficar de olho?
Imagine você investidor tendo que operar em uma semana em que todas essas questões vieram à tona. Agora, adicione o bom e velho componente Brasil, com as já conhecidas dificuldades orçamentárias, o risco fiscal elevado ainda pela questão dos precatórios, ânimos efervescentes dentro das instituições governamentais. E para completar, fluxo de saída de uma Bolsa que sofre com ruído político, mesmo sendo negociada abaixo do seu múltiplo médio histórico.
O que fica de aprendizado ao fim de uma semana turbulenta como essa é que um portfólio mais equilibrado e diversificado, com certeza ajuda a diminuir os efeitos da oscilação. Óbvio que ter liquidez em eventos como esses ajudam, e muito! Pois, pode-se precificar ativos com valores médios e aproveitar oportunidades, como os juros no Brasil. Seja pela elevação de Selic, ou pelas curvas de juros, com exigência de prêmio, pelo risco Brasil apresentado.
As alocações precisam ser pensadas e repensadas frente a eventos como esses. Movimentos ocasionados por stress não ajudam ninguém. O melhor, por hora, é olhar adiante, além desse ruído e dessa fumaça.
Por hora, me despeço de vocês, com esse cenário ainda incerto, e sem respostas para tantas dúvidas, pois ninguém as têm.
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