Reuniões do FMI: 10 pontos mais relevantes para os investidores brasileiros

Reuniões do FMI: 10 pontos mais relevantes para os investidores brasileiros

26/04/2023 às 12:47

26

Quarta

Abr

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Anualmente, durante a primavera do hemisfério sul, o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial promovem uma série de reuniões conjuntas com autoridades de diversos países e organizações multilaterais para debater a economia global e a condução de políticas monetárias oficiais. Além desses encontros, ocorrem eventos paralelos realizados por bancos e corretoras para seus clientes e investidores.

Em 2023, as reuniões aconteceram entre os dias 10 e 16 de abril, em Washington, D.C. O evento é uma oportunidade de aprofundar análises, conversar com especialistas, gestores, economistas e representantes de governos sobre os rumos econômicos e desdobramentos nos mercados globais. Durante esses dias, fomos representados por Alexandre Mathias, CEO da Kilima Asset, que acompanhou de perto as reuniões de primavera do FMI, além de participar de outros eventos com mais de 200 investidores e gestores de todo o mundo.

Neste artigo, reunimos os principais insights dessas reuniões para ajudar a qualificar sua compreensão sobre o atual ciclo econômico, tanto no contexto doméstico quanto internacional, e os possíveis impactos para os investimentos.

1) ​Recessão nos Estados Unidos até quando?

A economia real dos Estados Unidos tem se mostrado resistente à elevação dos juros, com uma combinação de poupança elevada e mercado de trabalho apertado. Nos últimos meses, o sistema financeiro foi afetado pela forte desvalorização dos ativos de renda fixa, gerando uma corrida contra os bancos regionais. No entanto, as medidas adotadas pelo Fed parecem ter contido o pânico dos mercados e a intensidade do impacto sobre a economia, que tende a ter efeitos mais moderados.

“A maioria dos investidores espera uma recessão até o 1º trimestre de 2024. No entanto, os dados da economia norte-americana não sinalizam uma expectativa de desaceleração forte nos próximos meses. Assim, salvo alguma surpresa, mantemos o cenário de uma alta adicional dos Fed Funds para 5,25%, seguido de um longo período de estabilidade, o que levará a inflação em direção à meta somente no ano de 2025.”

2) Renda Fixa x Renda Variável​

A desconexão entre os rendimentos dos títulos de renda fixa e do mercado de ações está configurada. Dessa forma, o mercado de juros mantém cortes precoces que vão na contramão das mensagens do Fed e se contrapõem ao dinamismo do segmento acionário. “No cenário de alta adicional e de um longo período de estabilidade dos Fed Funds em 5,25%, a expectativa é de que as taxas de 10 anos trabalhem mais próximas de 4%, o que seria compatível com uma correção moderada para baixo do SP 500.”

3) Diversificação e fragmentação substituem a desglobalização 

Um ponto muito debatido durante os fóruns do FMI, no contexto geopolítico, foi a conclusão de que o momento atual não é de desglobalização, mas de diversificação. O “just-in-time” é tão importante quanto “just-in-case”, ou seja, as cadeias produtivas precisam se preocupar em ter fontes alternativas de fornecimento. Sendo assim, a segurança para a operação dos negócios é tão importante quanto os custos. Não haverá saída em massa de empresas da China, mas é provável que os mercados globais de valor se fragmentem ao longo das tensões geopolíticas. 

4) Há risco de calote na dívida dos Estados Unidos? 

O risco de default da economia foi um dos temas que mais repercutiram nos Estados Unidos durante os encontros do FMI. A possibilidade de inadimplência técnica na dívida norte-americana subiu de 10% para 35%, fazendo o CDS de 1 ano disparar depois que a dívida atingiu o limite de US$ 31,4 trilhões em janeiro.

“Se até junho não houver um acordo com o Congresso, o Tesouro não poderá emitir uma dívida adicional, comprometendo seu caixa entre julho e agosto. Isso significa que há um risco real da dívida americana entrar em default, com consequências dramáticas para a economia mundial. Então, esse é um indicador importante para ficarmos bem atentos”, sinaliza Alexandre Mathias.

5) Guerra da Rússia-Ucrânia​

O conflito continuará sendo uma fonte de risco geopolítico, mas, na visão de muitos agentes econômicos, a tendência é que a guerra siga no ritmo atual.

6) Cenário de neutro a favorável para os mercados emergentes​

Para os mercados emergentes, esse é um cenário de recessão mitigada, o que pode ser bem positivo para essas economias. Outro ponto de destaque neste contexto é a vitalidade da China, que tem registrado uma retomada econômica após a abertura, eliminando um dos detratores do crescimento global.

7) Interesse pelo Brasil permanece elevado​

Há um clima positivo e de grande interesse entre investidores internacionais pelo Brasil, que estão focados, principalmente, na aprovação do novo arcabouço fiscal brasileiro e nos riscos de mudança na meta da inflação.

8) Mudança de meta traz preocupação​

Ao mesmo tempo em que existe otimismo pelas oportunidades de investimento no País, há também uma preocupação mais acentuada entre economistas do que entre os gestores, que avaliam que a mudança já está presente nos preços.

9) Arcabouço Fiscal bem recebido, mas não há “regra” contra vontade política

A proposta das novas regras fiscais ajudou a afastar o risco de cenários piores, principalmente porque os embates com o Banco Central e os ruídos partidários haviam gerado o temor de uma pauta de conflitos permanente, ao estilo argentino. No entanto, como diz uma expressão famosa, “where there’s a will there’s a way” ou “onde há vontade, há um caminho”.

“O arcabouço trouxe melhora da percepção de risco, agora, as dúvidas são relativas à aprovação e implementação do texto e às reformas tributárias com a execução ao longo de 2023 e 2024. É um pilar importante, mas requer endosso político contínuo. O Teto dos Gastos, que estava na Constituição, foi contornado evidenciando que nenhuma regra assegura uma trajetória fiscal saudável à revelia da dinâmica política”, avalia Mathias.

10) Política​ doméstica em foco

O governo Lula 3 não segue o roteiro bem-sucedido do Lula 1, principalmente por estar inserido em um cenário político muito polarizado. Embora o discurso tenha um tom mais populista, isso não implica que as decisões seguirão esse roteiro, mesmo com ruídos. O que se percebe também é que a ala ideológica radical não tem prevalecido sobre a equipe econômica.

Existem aspectos que podem ser um gatilho para a mudança da orientação econômica, como as perspectivas de crescimento da economia e da popularidade do governo. O ponto de partida de Lula 3, perto de 40% de aprovação, é menor do que seus mandatos anteriores. A perda de aprovação, após a eleição, segue o padrão visto nas democracias ocidentais, indo em direção a 40% no segundo ano, o que é considerado razoável entre analistas políticos.

“Neste contexto, aumentamos a probabilidade do cenário base, pois o arcabouço fiscal afasta o temor de descontrole da dívida no curto prazo. Ele gerou uma âncora crível, mas que será frágil enquanto não tivermos superávit primário. Então, o foco será a execução ao longo do tempo e as expectativas de arrecadação nos parecem excessivamente otimistas. Trabalhamos com uma mudança da meta em 2024 para 4%, com efeitos limitados sobre as expectativas”, comenta o CEO da Kilima Asset.

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