Desde o início de 2021, uma mudança têm ocorrido nos mercados globais. O reflation trade (expectativa de aceleração de inflação) iniciado no começo de novembro que, combinado com estímulos fiscais adicionais, levaram à abertura da curva de juros de longo prazo. Consequentemente, as expectativas de inflação futura também subiram.
A julgar pelo aumento da volatilidade em muitas classes de ativos importantes nos últimos meses, parece que os mercados ainda não estão preparados para uma discussão sobre taxas de juros de curto prazo mais altas, inflação mais elevada e estímulos em dólares que serão retirados em breve.
Os altos valuations para os mercados de ações globais parecem vulneráveis neste novo ambiente com taxas de juros de longo prazo mais altas. Em particular, é o caso de um subsetor do mercado, as ações de crescimento (growth, em inglês), precificadas em um cenário de forte crescimento contínuo e taxas de juros próximas de zero.
Se os rendimentos dos títulos de longo prazo permanecerão altos, ou se podem subir ainda mais, não é o foco desse relatório. Nosso foco é: como as ações brasileiras são impactadas por isso?
- O dólar recuperou um pouco de seu brilho – o índice do dólar (DXY Currency) valorizou +4,2% em relação às mínimas recentes, ao passo que o diferencial de taxas de juros perante outras economias desenvolvidas aumenta. Por exemplo, o título alemão de 10 anos está em uma taxa de -0,4% atualmente e, com a taxa de juros do Tesouro americano de 10 anos em 1,6%, há uma diferencial de juros de 2p.p. Se a narrativa do “dólar fraco” mudar daqui para frente, os fluxos para os Mercados Emergentes podem começar a ser impactados.
- Cuidado com os preços das commodities – o índice CRB (índice de commodities) subiu +40% nos últimos 9 meses, e há um grande consenso em manter posições compradas em commodities. Embora concordemos com essa visão, estamos cientes do fato de que títulos com juros mais altos e um dólar forte podem começar a pesar sobre os preços desses ativos, pois eles tendem a se beneficiar do cenário oposto – com o dólar fraco e juros próximos a zero. Os metais preciosos já começaram a sentir os efeitos, com o preço do ouro caindo -10,0% no acumulado do ano e a prata -7,5%. Enquanto isso, os preços de matérias-primas e metais pesados (como níquel e cobre) ainda estão em alta como resultado de uma forte economia global.
- As ações de crescimento brasileiras parecem mais vulneráveis - assim como nos EUA, as ações de crescimento brasileiras sofreram com essa rotação de Growth para Value (ou empresas de valor). Nomes como Magazine Luiza, Mercado Livre (que não é brasileiro, mas tem bastante exposição ao país) e alguns IPOs recentes relacionados à tecnologia viram os preços de suas ações corrigirem -7% a -30% no último mês. Se as taxas globais continuarem a subir, esses nomes podem continuar a ter dificuldades no curto prazo.
- Nomes sensíveis às taxas de juros também – setores que são mais sensíveis à alta nas taxas de juros, como Setor Elétrico e Imobiliário, também têm enfrentado dificuldades ultimamente no Brasil. No entanto, acreditamos que isso seja impulsionado principalmente pelas taxas de juros domésticas mais altas do que pelas taxas globais, como discutiremos a seguir.
Dito isto, o índice Ibovespa subiu +6,0% em reais no mês de março e, com a moeda local mais fraca, +4,1% em dólares. Porém, no ano, a Bolsa brasileira continuou a se descolar dos mercados globais, e acumula queda de -2,0% em reais e -10,8% em dólares.
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