Cenário global
O choque de volatilidade com a apreciação do iene e o crash dos mercados no início de agosto foi superado sem grandes consequências.
O presidente do Fed, Jerome Powell, praticamente sacramentou o início do ciclo em setembro ao afirmar que “a confiança cresceu de que a inflação está em um caminho sustentável de volta aos 2%” e que “chegou a hora de ajustar a política [monetária]”. Os dados mais recentes ainda confirmaram a avaliação de que “a economia continua a crescer em um ritmo sólido”, reduzindo o temor de recessão.
A configuração do cenário global aponta para um pouso suave da economia americana, com a inflação convergindo gradualmente. Enquanto isso, o Fed deve cortar os Fed Funds no ritmo de 25 p.b. por reunião, trazendo a taxa dos atuais 5,50% para 3,50% em 2025.
Cenário doméstico
Se o cenário global ganhou uma configuração bastante benigna, o cenário doméstico tem contornos de pesadelo com o risco fiscal cada vez mais proeminente. O comportamento do câmbio mesmo com o global favorável torna a alta da Selic ainda mais necessária se o BC quiser manter sua credibilidade.
Depois das declarações do presidente Lula de que o próximo presidente do BC — indicado por ele — cortaria os juros, a verdade é que o risco monetário se somou ao risco fiscal que já era alto. A conduta fiscal e as declarações do presidente Lula remetem a uma reedição do último governo do PT, onde a combinação de políticas fiscal expansionista e monetária frouxa geraram inflação alta e uma crise fiscal.
Um reforço da credencial antinflacionária será bem-vindo. No entanto, com o fiscal frouxo e repleto de medidas que não tem credibilidade, a percepção de risco seguirá elevada. Assim, o BC precisa apertar a política monetária, mas mais importante: o governo precisa dar uma resposta crível no orçamento.
O ritmo e a extensão do ciclo dependerão da percepção de risco e do impacto sobre a taxa de câmbio. Mas a alta do dólar e o forte ajuste para cima da curva longa de juros na sexta-feira mostraram que um ciclo gradual não será bem recebido. Por isso, mantemos a visão de que duas altas de 50 p.b. são preferíveis a um caminho gradual, mesmo diante do sinal dado pelo presidente do BC.
A verdade é que o governo Lula III está em um momento decisivo. O cenário base, com 70% de probabilidade, assume um freio de arrumação fiscal e monetária que, com o Fed cortando os juros, favorece uma apreciação do real rumo a R$ 5,20 por dólar.
No entanto, o cenário pessimista segue com 30% de chance. A continuidade de um fiscal expansionista, como defende a ala política do governo, junto com um BC complacente com a inflação, levaria o dólar e o risco para cima, comprometendo a valorização dos ativos brasileiros mesmo com o cenário global favorável.
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