Enquanto muita gente reduz o conceito dos fundos ESG à questão da sustentabilidade, algo de novo vem mudando o cenário da letra G, de governança. Estudos de rotinas corporativas sinalizam que a satisfação dos colaboradores pode afetar positivamente o desempenho das companhias na bolsa. O contrário também é verdadeiro: funcionários insatisfeitos podem adiar o protagonismo da empresa no mercado financeiro.
Uma pesquisa da MarketPsych, consultoria de Singapura, revelou que empresas conhecidas pelas boas práticas de governança trabalhista se destacam entre as que mais conquistam bons indicadores na bolsa e têm menor oscilação no curto prazo. Já grupos que ainda mantêm estruturas precárias de trabalho, como algumas cadeias de fast food, são as que apresentam menor constância de rentabilidade ao longo do tempo.
A empresa cruzou balanços financeiros, informes para o mercado, comunicados internos e dados publicados em mídias sociais para chegar à conclusão de que a felicidade do time é diretamente proporcional ao desempenho das marcas no mercado.
A lógica é a seguinte: quando o trabalhador é valorizado, tem os direitos respeitados e trabalha em um ambiente agradável, ele costuma “vestir a camisa” da empresa de maneira orgânica, sem artificialismos.
Além disso, as políticas modernas de recursos humanos dão pontos para as companhias que criam essas condições positivas – respeito à diversidade, gestão salarial justa, planos de carreira, incentivo à capacitação e alinhamento com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Unesco.
No Brasil, a maior resistência ainda está em grupos familiares. Questões culturais que “blindam” as organizações gerenciadas “de pai para filho” impedem avanços expressivos nas relações de trabalho, nas políticas de compliance e nas relações com a concorrência. Entre essas práticas anacrônicas, podemos destacar o receio em compartilhar dados não-estratégicos com os colaboradores.
Mas esse entendimento vem mudando aos poucos. A ampliação dos canais digitais de comunicação expôs questões que antes eram restritas aos corredores da empresa. O funcionário infeliz transparece isso para além das relações pessoais. Já o colaborador satisfeito também manifesta esse contentamento. Se antes a felicidade estava restrita ao círculo familiar e de amizade, agora o mercado também está de olho nisso. Bom para a empresa, bom para os investidores.