Acredito que muitas pessoas acompanharam notícias recentes sobre algumas mudanças ocorridas em relação aos BDRs, a sigla que significa Brazilian Depositary Receipts.
Primeiro vamos definir o que são estes investimentos e depois eu conto a novidade.
O que é um BDR?
Os BDRs são certificados que representam ações emitidas por empresas em outros países, mas que são negociados aqui, na bolsa de valores brasileira.
Como funciona isso na prática: uma instituição financeira, chamada de depositária, adquire ações de empresas americanas, como por exemplo, Google, Apple ou Facebook.
No Brasil, essa mesma instituição oferece aos investidores os BDRs, que são títulos que representam essas ações. Então, o investidor brasileiro não está comprando as ações das empresas diretamente, mas, sim, os títulos que representam esses papéis.
Existem dois grupos principais de BDRs: os patrocinados e os não patrocinados.
Existe essa distinção pela maneira de como os certificados são trazidos para a nossa bolsa de valores, como são negociados e segundo o volume de informações oferecidas aos investidores sobre as empresas.
Os BDRs Patrocinados (Níveis I, II e III)
Empresas estrangeiras com interesse de expansão em outros mercados, procuram por conta própria e contratam instituições depositárias para a emissão dos certificados.
Os BDRs Patrocinados são esses, em que as empresas emissoras (como a Apple, o Google, a Amazon, e etc) participam de todo o processo.
Esse tipo de BDR é subdividido em três níveis: Nível I, II e III.
Nível I
Nesse nível, os BDRs não precisam de registro da companhia na Comissão de Valores Mobiliários (CVM) para serem negociados.
Dessa forma, eles só podem ser negociados em mercado de balcão não organizado ou em outros ambientes da bolsa que forem especificamente criados para esse tipo de papel.
Níveis II e III
Os BDRs Patrocinados Nível II e III são muito parecidos. Ao contrário dos de Nível I, nos de nível II e III, a empresa emissora das ações no exterior (lembrando: essas são as empresas que terão suas ações negociadas nos BDRs) precisa obter registro na CVM, ou seja, no Brasil.
Outra diferença também é que esses não precisam da criação de um ambiente exclusivo, eles podem ser negociados no pregão da bolsa ou em balcão organizado.
As companhias emissoras precisam seguir as mesmas regras que empresas brasileiras “Categoria A”, como Petrobras e Vale. Essas regras estão relacionadas a transparência e governança.
Principais diferenças entre BDRs Patrocinados de Nível II e III
- Certificados de Nível II – só podem receber ofertas públicas com esforços restritos (ofertas públicas que seguem as normas da instrução CVM 476/2009) que significa uma oferta para um público específico e de até 75 investidores, dos quais até 50 podem investir de fato.
- Certificados de Nível III – as ofertas públicas podem ser amplas, mas precisam ter registro na CVM.
Não Patrocinado
Eles são a grande maioria desse mercado. Nessa caso, a iniciativa de emitir os certificados de ações estrangeiras no Brasil parte da ou das instituições depositárias (como um Banco comercial ou a própria B3) sem a necessidade de um acordo com a empresa emissora das ações.
Por conta disso, é responsabilidade da mesma a divulgação dos relatórios, balanços e mais informações das empresas. Os BDRs Não Patrocinados são sempre classificados como Nível I.
E qual seria a novidade?
Antes de uma flexibilização da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), apenas investidores qualificados, aqueles que possuem pelo menos 1 milhão de reais em ativos financeiros, podiam investir em BDRs Nível I.
A CVM autorizou que a partir do dia 22 de outubro de 2020, investidores comuns poderão negociar BDRs Nível I. Então, os BDRs estarão disponíveis para todos os investidores, sem mais a necessidade de ser um investidor qualificado.
Desde o início, os BDRs só abrangiam recibos de ações de empresas estrangeiras.
Agora, a CVM também permitiu o lançamento de BDRs de empresas brasileiras que optaram por abrir o capital fora do Brasil, como a Stone, PagSeguro, XP, entre outras. Isso vai possibilitar a participação de investidores brasileiros via BDRs nos IPOs de companhias brasileiras no exterior.
Além disso, a CVM passou a permitir o lançamento de BDRs com lastro em títulos de dívida, inclusive emitidos por companhias abertas brasileiras. E também, lastreados em cotas de fundos de índices, chamados ETFs, negociados no exterior.
Vantagens
Facilidade
Em vez de abrirmos conta em uma corretora americana, investir em BDRs é uma das alternativas para o investidor brasileiro adquirir ativos visando investimentos em companhias de fora do circuito nacional com relativa facilidade.
Sem surpresas de taxas
Não existe a preocupação com transferência de recursos. Todas as operações são realizadas em reais.
Diversificação
Os BDRs podem ser uma maneira de diversificarmos o nosso portfólio estando expostos aos ativos internacionais. Esse ano, diante da crise do coronavírus, percebemos ainda mais o quanto é importante termos essa exposição.
Podemos investir em empresas globais de uma forma muito simples e muitas vezes, de setores que ainda não tenham grandes representantes no Brasil, como o de tecnologia.
Riscos e Desvantagens
Volatilidade
Os BDRs apresentam volatilidade, obviamente, já que estão atrelados às ações estrangeiras, pertencentes a classe de ativos de renda variável. E a volatilidade é característica desse mercado, sendo imprevisível seus ganhos ou perdas.
Impactos do Câmbio
Na prática, os BDRs refletem a variação de preço das ações estrangeiras às quais estão atrelados, só que no Brasil e em reais, então sofrem o efeito do câmbio também.
Pode acontecer de uma BDR se valorizar muito mais que a ação do exterior, por exemplo. Isso porque, ao comprar BDRs você também está exposto à variação da moeda brasileira contra o dólar. Se o dólar sobe, você ganha valor, se o dólar cai, você perde valor.
Custos e tributação
Semelhantes aos de uma operação com ações brasileiras.
Custos
É cobrado, geralmente, uma taxa de corretagem para a corretora que o investidor utiliza para operar na bolsa de valores brasileira, os emolumentos devidos à ela e, dependendo da corretora, taxa de custódia.
Tributação
A tributação é cobrada na forma do Imposto de Renda que, nesse caso, é de 15% sobre os ganhos obtidos no período. Cabe ao investidor calcular o valor devido com base no lucro das vendas realizadas no mês e paga via DARF até o último dia do mês seguinte.
É importante saber que não há a isenção de IR até R$ 20 mil, como acontece com as ações, a cobrança se aplica mesmo quando os volume negociados são menores. Sobre os proventos emitidos pela empresa estrangeira, eles são repassados aos investidores brasileiros, conforme as regras de tributação de lucros específica.
Como encontrar os BDRs na nossa Bolsa de valores?
Na bolsa de valores brasileira, a B3, os BDRs são identificados por um código de 4 letras, que identificam a empresa, e 2 números que identificam se ele é patrocinado ou não e de qual nível.
Código de negociação.
- Código BDRs Patrocinados Nível I – não possuem número fixo no fim
- Código BDRs Patrocinados Nível II – Terminam com o número 32
- Código BDRs Patrocinados Nível III – Terminam com o número 33
- Código BDRs Não Patrocinados – Podem terminar com 34 ou 35
Os BDRs da Amazon, por exemplo, são do tipo Não Patrocinado. Seu código é AMZO34.
Lote mínimo.
O lote mínimo para a negociação de BDRs já foi de 100, de 10 e hoje é de apenas 1 unidade por operação no mercado secundário.
Como investir
Como dito, os BDRs são ativos de renda variável, e seguem a mesma lógica do mercado de ações.
Por isso, antes de você negociar o produto, cabe entender a empresa em questão, os riscos envolvidos, a liquidez dos papéis, e principalmente verificar se investir nesse ativo faz sentido no seu portfólio e se está de acordo com o seu perfil de investidor. Consulte o seu assessor para saber mais.
Vou disponibilizar um conteúdo feito por uma equipe de especialistas da XP Investimentos contendo os Top 10 BDRs Internacionais.
Até o próximo artigo!