Real 30 anos: como a moeda estabilizou a economia brasileira? - Monte Bravo

Real 30 anos: como a moeda ajudou a estabilizar a economia brasileira?

30/06/2024 às 00:00

30

Domingo

Jun

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Nesta segunda-feira (01), o Real completa 30 anos de circulação. A moeda é o símbolo do Plano Real, iniciado em 1993 e considerado uma das reformas econômicas mais importantes da história do Brasil.

O Plano Real foi a resposta achada pelo governo brasileiro para estancar anos de hiperinflação no país.

Mesmo que tenha a mudança de padrão monetário como principal ícone, a reforma econômica Realizada nos anos 1990 foi muito mais complexa do que uma ‘simples’ troca de moeda. Alguns dos mecanismos usados na implementação do Real foram cruciais para garantir o sucesso da então nova moeda, que já é a segunda mais longeva da história do Brasil desde a nossa independência.

Neste artigo, vamos te contar um pouco sobre a história das moedas do Brasil, o cenário que levou à implementação do Real como moeda oficial do país e o que fez o padrão monetário durar mais que seus antecessores. Confira!

As moedas brasileiras

O Real atualmente em circulação é o nono padrão monetário desde a Independência do Brasil, no dia 7 de setembro de 1822. 

Esta é, inclusive, a segunda vez que a moeda brasileira recebe este nome. O Real em circulação no Brasil entre 1822 e 1942 derivou da então moeda portuguesa, que ficou mais conhecida pelo seu plural ‘réis’. 

Desde 1942, outras sete mudanças de padrão monetário aconteceram no país. A troca de moeda, na maioria das vezes, tem como objetivo combater a inflação e a desvalorização da moeda. 

Abaixo, confira uma linha do tempo com todas as moedas oficiais do Brasil desde a independência:

Você deve ter notado um padrão na maioria destas mudanças. Em algumas oportunidades, a reforma no padrão contou com um ‘corte de zeros’, que readequava os valores das moedas já em circulação de acordo com o novo padrão — fazendo com que mil cruzados, por exemplo, passassem a valer um cruzado novo.

O Plano Real

O Plano Real veio na esteira de uma série de planos de reestruturação da economia brasileira. A hiperinflação dominou o noticiário econômico brasileiro por quase uma década, da segunda metade dos anos 1980 até o início dos anos 1990.

“O Plano Real foi o sétimo plano para estabilizar a inflação no Brasil. Do Plano Cruzado, que foi o primeiro em 1986, até o Plano Real foram oito anos e seis tentativas fracassadas de estabilizar a economia.”

Alexandre Mathias, estrategista-chefe da Monte Bravo Corretora. 

Para se ter uma noção, a inflação acumulada entre março de 1986 — implementação do Plano Cruzado — e junho de 1994 — último mês antes da circulação do Cruzeiro Real — foi de 38.389.992.681,36% de acordo com o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). 

Até então, os planos de reestruturação da economia costumavam se limitar aos cortes de zeros nas moedas em circulação e/ou congelamento de preços no mercado. Para conseguir estancar a inflação, como conseguiu, o Plano Real utilizou de uma série de ferramentas mais sofisticadas — principalmente no cenário fiscal. 

Uma destas ferramentas foi a âncora cambial, que permitiu que se estancasse uma inflação na casa dos 20% ao mês. Nos 12 meses anteriores à circulação da nova moeda, em julho de 1994, a inflação acumulada superou estava em 4.922,60%.

Os mecanismos do Plano Real

Como já dito anteriormente, o Plano Real não se destacou em comparação às tentativas anteriores de conter a inflação repetindo as estratégias já executadas sem êxito. Para que o lançamento da nova moeda, no dia 1º de julho de 1994, fosse um sucesso, foi necessário cumprir uma série de pré-requisitos. 

O ‘vilão’ da inflação brasileira era o cenário fiscal. O então ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso, teve o desajuste fiscal como seu primeiro alvo no combate a hiperinflação. 

Foram criados um Fundo Social de Emergência e um Plano de Ação Imediata, que ajudaram a elevar o superávit primário do Brasil para 5,2% do Produto Interno Bruto (PIB).

“Desta forma, se criaram pré-condições fiscais para a estabilização da economia”, aponta Alexandre.

A segunda etapa do Plano Real foi a implementação da Unidade Real de Valor (URV). A URV agiu como uma ‘moeda paralela’ e permitiu a convergência de todos os preços para a mesma moeda — o real. Desta forma, funcionou como uma ‘ponte’ entre o Cruzeiro Real e o Real. 

Na prática, a URV dolarizou a economia brasileira, pois seu valor acompanhava a cotação do Dólar ante o Cruzeiro Real. 

Com o cenário fiscal e de indexação resolvidos, o real foi lançado e a âncora cambial permitiu ao Brasil resolver — após quase uma década de tentativas — o problema da hiperinflação. A âncora cambial foi utilizada até 1999, quando a âncora da economia brasileira passou a ser o regime de metas da inflação. 

“Ao fixar a taxa de câmbio ante o Dólar, o câmbio se torna a âncora nominal da economia”, explica Alexandre. “O câmbio fixo ajuda a coordenar as expectativas de inflação e baliza a formação de preços e assim a inflação tende a convergir lentamente para a inflação da moeda a qual se indexou — no caso, o Dólar norte-americano”.

Resultado e legado do Plano Real

O resultado do Plano Real foi imediato. A inflação acumulada em 12 medida pelo IPCA desacelerou de 4.922,60% em junho de 1994 para 33,03% no mesmo período do ano seguinte. O gráfico abaixo ilustra essa mudança de curso da inflação no país:

Imagem: Banco Central do Brasil (Divulgação)

“A grande herança que o Plano Real deixou foi a inflação sob controle, que em última instância é a preservação do poder de compra dos salários e da moeda, que é uma demanda da sociedade.” 

Luciano Costa, economista-chefe da Monte Bravo Corretora

Quando continuamos a olhar para as taxas anualizadas da inflação brasileira, o legado do Plano Real fica ainda mais evidente. As taxas de quatro dígitos foram rapidamente substituídas. A última vez que o IPCA final de um ano superou os 15% foi justamente em 1995 — primeiro ano completo da nova moeda, onde a inflação ainda estava convergindo para as taxas menores. 

“O Plano Real foi resultado de uma liderança que aliou política com expertise técnica”, aponta Luciano. “Pelo lado político, um ministro da fazenda — Fernando Henrique Cardoso — que era muito hábil politicamente. Pelo lado técnico, um grupo de economistas brilhantes — como Gustavo Franco, Edmar Bacha, Pérsio Arida, André Lara Resende e Pedro Malan — que conceberam o plano”.

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