Fed mantém Fed Funds em 5,50% e reduz a mediana para 1 corte. Mas CPI de maio benigno dominou reação do mercado.
O FOMC manteve a taxa de Fed Funds (juros base dos EUA) em 5,50% a.a. e avalia que os riscos para o duplo mandato de pleno emprego e inflação evoluíram para um balanço mais equilibrado ao longo do último ano.
O Comitê reconheceu que houve progressos modestos em direção ao objetivo de atingir a meta de 2,0% nos meses recentes, mas ainda não foi atingida a confiança da convergência da inflação para iniciar o ciclo de redução dos juros.
Apesar da melhora gradual da inflação, a política monetária segue suficientemente restritiva para obter a convergência e é improvável que seja necessário elevar a taxa de juros novamente.
Atividade: atividade econômica continuou a expandir em um ritmo sólido.
Mercado de Trabalho: emprego com ganhos fortes e desemprego baixo.
Inflação: houve alívio nos dados de abril, mas ainda alta.
Balanço de Riscos: moveram em direção a um melhor equilíbrio em 2023.
Orientação para o futuro: Comitê não espero que seja apropriado reduzir os juros até que tenha maior confiança de que a inflação está se movendo de forma sustentável em direção a 2,0%.
Entrevista: Powell explicou que a projeção do núcleo do PCE de 2024 foi elevada de 2,6% para 2,8% para incorporar um “ligeiro elemento de conservadorismo”, pois a inflação observada de junho a dezembro do ano passado foi muito baixa.
Entretanto, reconheceu que o núcleo do PCE pode ficar abaixo da projeção, como por exemplo, 2,6% ou 2,7%, o que seria um bom patamar.
A respeito da projeção para os juros no final de 2024, que indicou que 15 dos 19 membros do comitê indicaram pelo menos um ou dois cortes, e que os votos estavam divididos de forma bastante uniforme entre as duas opções, Powell reconheceu que é uma “projeção muito apertada” e que não é possível distinguir entre os dois casos.
Porém, Powell enfatizou que o comitê tem uma visão unânime que a decisão dependerá de todo os dados, e não somente dos dados de inflação. A situação do mercado de trabalho, do balanço de riscos e do crescimento também serão levadas em conta para avaliar se o comitê está confiante que a inflação está convergindo.
A entrevista deixou uma mensagem menos dura que o comunicado e as projeções, pois o Powell reconheceu a divisão apertada entre os membros do comitêsobre os cortes de juros esse ano.
Nossa expectativa é que a economia deverá seguir moderando o crescimento, com menor abertura de vagos, e o núcleo do PCE desacelere para 2,6% em termos anuais em maio e atinja 2,5% em setembro desse ano. Considerando essa dinâmica da inflação e da economia, o FED deverá iniciar o ciclo de corte de juros em setembro, com 3 corte de 25 p.b. até dezembro.
O que isso implica para os mercados de ativos
O Fed manteve as taxas dos Fed Funds em 5,50% a.a. mas trouxe a mediana das expectativas para apenas um corte de 25 p.b. ao invés de três de março. No entanto, a postura mais dura do Fed foi neutralizado pelo CPI benigno que sanciona a projeção de que o núcleo do PCE cairá para 2,6% na leitura de maio.
Na entrevista, Powell apresentou um quadro balanceado reconhecendo que “a economia fez um progresso considerável em direção a ambos os objetivos”. O mercado de trabalho está em um “equilíbrio melhor, com ganhos contínuos de empregos e baixa taxa de desemprego”, ao mesmo tempo a “inflação diminuiu substancialmente de um pico de 7% para 2,7%, mas ainda é muito alta.” Por isso, “estamos mantendo uma postura restritiva de política monetária para manter a demanda alinhada com a oferta e reduzir as pressões inflacionárias”.
A mediana das expectativas dos diretores trouxe duas surpresas. A projeção para o núcleo da inflação em 2024 subiu de 2,6% para 2,8% e a projeção para os Fed Funds passou para um corte de 25 p.b. frente a 3% na pesquisa de março.
Na prática, os diretores assimilaram a inflação mais alta do primeiro trimestre e incorporaram uma convergência mais lenta na reação dos juros. Mas Powell enfatizou que estas “projeções não são um plano o de qualquer tipo de compromisso, por isso mudam à medida que o comitê evolui suas avaliações”.
O CPI (índice de preços ao consumidor) dos EUA, divulgado de manhã, surpreendeu ficando abaixo do esperado com a taxa anual avançando 3,3% frente a expectativa de estabilidade em 3, 4%, do dado de abril.
O núcleo do CPI, que desconsidera as variações de preços de alimentos e energia, teve alta mensal de 0,2%, após subir 0,3% em abril, trazendo a taxa anula para 3, 4%, após alta de 3,6% no mês anterior.
O dado CPI reforça nosso cenário Base que tem uma desaceleração do núcleo do PCE ao longo do segundo trimestre rumo a 2,6%, número que poderá ser atingido já no dado de maio que sairá no dia 28 de junho. Por isso, continuamos a acreditar que no segundo semestre a dinâmica dos mercados voltará a contemplar três cortes dos Fed Funds, começando em setembro.
Depois da decisão e da entrevista, o mercado futuro de Fed Funds passou a embutir cerca de 44 p.b. de corte em 2024.
Nestas condições, a perspectiva para os ativos brasileiros ao longo de junho seria de recuperação, o que, no entanto, está obscurecido pelo agravamento da crise fiscal diante do isolamento do Ministro Haddad.
Ibovespa: está muito descontentado e sem gatilho, mas pode subir rapidamente se houver qualquer sinal de Lula em favor do ajuste fiscal.
Dólar: o Real sofreu muito com a piora do risco fiscal e tem potencial de recuperação, em especial, face à melhora do cenário de juros nos EUA.
Juros: curva de juros está toda premiada pelo estresse fiscal que contaminou câmbio e expectativas de inflação.
Por:
Alexandre Mathias | Bruno Benassi |
Head da Análise Estrategista-Chefe | Analista de Ativos CNPI: 3931 |
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