O Brasil vem enfrentando uma forte queda de temperaturas nos últimos dias, especialmente nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste. Em São Paulo, os termômetros já chegaram a registrar sete graus. Em algumas regiões, a sensação térmica pode ser negativa. Mas o frio extremo pode afetar a inflação? Economicamente falando, as baixas temperaturas impactam a população não somente pelo frio, mas pelas contas.
Isto porque esses fenômenos de geadas e ondas de frio impactam a produção de alimentos, especialmente, hortaliças e verduras, que sofrem bastante durante este período, podendo gerar mais um choque inflacionário no preço dos alimentos e provocar impactos em cadeia sobre os preços em geral.
Segundo Luciano Costa, sócio e economista da Monte Bravo, as carnes também podem sofrer aumento de preços, uma vez que as pastagens também são atingidas pelo frio. “De um modo geral, as maiores pressões ficam com os produtos agrícolas, uma vez que temos perda de produção desses produtos de ciclo mais curto, ou seja, que dependem mais do clima para não sofrer nenhum tipo de quebra na produção”, explica.
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Em 2021, durante um período de baixas temperaturas, a inflação dos alimentos in natura acelerou de forma bastante abrupta. Entre agosto e julho, por exemplo, os preços saltaram de -2,21% em julho para 5,12% em agosto, de acordo com o índice de preços da Fundação Getúlio Vargas.
Por outro lado, itens como feijão, arroz, soja e milho, mais resilientes, tendem a sofrer menos impacto.
Do ponto de vista econômico, o maior ponto de atenção é mesmo o da inflação um pouco mais alta, ainda que não seja possível estimar os impactos com precisão. Contudo, caso essa onda de frio permaneça, provavelmente veremos novos aumentos nos preços de alimentos na virada de maio para junho.
“O tamanho e o período da alta vão depender do tempo de duração do frio e das geadas. Ainda é cedo para prever qualquer impacto direto. Mas, ao olhar para o que já aconteceu em outros anos e no ritmo inflacionário dos alimentos, é possível que a população sinta o aumento de preços no próximo mês”, disse Luciano.
Banco Central deve aumentar juros por causa do frio?
Por fim, para o cenário como um todo, Luciano acredita que as baixas temperaturas não devem ser uma grande restrição para o Banco Central em termos de política monetária. “Sabemos que os choques inflacionários de origem climática ocorrem e que são transitórios no sentido de elevar preços. Porém, em um segundo momento, quando os níveis de produção se estabilizam, a tendência é que eles devolvam os impactos sobre os índices de inflação. Portanto, neste caso, pouco adiantaria um ajuste na política monetária a fim de combater os efeitos primários do choque. Nesses casos, a recomendação é a política monetária focar nos efeitos secundários desse tipo de choque, que não deve ser significativo para o cenário de inflação”, explicou.