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O IPCA registrou uma deflação de -0,02% no mês de agosto. Os números ficaram abaixo da nossa expectativa (0,05%) e do consenso do mercado (0,01%).
O resultado foi melhor que o esperado, com uma composição benigna, em especial, devido à desaceleração dos núcleos e serviços.
A deflação de alimentos — embora em menor intensidade —, o impacto da mudança da bandeira da tarifa de energia elétrica de amarela para verde e o desconto de passagens aéreas foram fontes de alívio do IPCA de agosto.
Além disso, os impactos dos reajustes de combustíveis (gasolina e etanol) foi menor que o esperado. Houve ainda uma acomodação de despesas pessoais.
Os impactos da depreciação do câmbio estão se confirmando nos bens. Esse efeito poder ser visto especialmente em itens como móveis e aparelhos eletroeletrônicos.
Os núcleos registraram alta de 0,24% na margem em agosto, desacelerando em relação a julho. A variação acumulada em 12 meses ficou praticamente estável, passando de 3,83% em julho para 3,80% em agosto. A estabilidade dos núcleos em 12 meses é uma boa notícia, mas não reduz o desconforto com a manutenção dos mesmos em patamar incompatível com a meta de inflação.
O núcleo de bens industriais acelerou, passando de 0,08% em julho para 0,17% em agosto, e foi impactado pela forte alta de aparelhos eletroeletrônicos (0,64%) e móveis (0,84%). A média móvel de 3 meses anualizada acelerou para 2,5% — indicando os efeitos da depreciação do câmbio.
Em termos anuais, o núcleo dos bens registrou alta de 1,10% em agosto. O repasse do câmbio para os bens é um desafio para o processo de convergência da inflação para as metas, principalmente no contexto atual de crescimento da economia acima do potencial.
Os serviços tiveram uma dinâmica mais favorável na margem. O núcleo dos serviços, que exclui passagens aéreas, desacelerou de uma alta de 0,63% em julho para 0,28% em agosto. O número reflete a menor pressão de itens como condomínio, seguro e aluguel de veículo. Em termos anuais, o núcleo de serviços registrou alta de 5,1% em agosto.
Portanto, o IPCA teve comportamento benigno, mas o impacto da bandeira vermelha 1 na tarifa de energia elétrica e a reversão da deflação de alimentos deverão pressionar a inflação de setembro.
Para setembro, a projeção do IPCA é alta de 0,53%. Mantemos nossa projeção de 4,7% para 2024.
Com relação à política monetária, a inflação de curto prazo benigna não altera a avaliação que o balanço de riscos para a inflação segue assimétrico. A desancoragem das expectativas de inflação, a depreciação da taxa de câmbio, a atividade crescendo acima do potencial e as incertezas fiscais elevadas seguem como fatores de risco dominantes. Diante desse quadro, avaliamos que o Banco Central deverá retomar o ciclo de aperto da política monetária, com um aumento de 25 p.b. na taxa Selic a partir da reunião de setembro. O movimento deve ser seguido por duas altas de 50 p.b. e um ajuste final de 25 p.b. —levando a taxa Selic para 12% a.a. em janeiro de 2025.