O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15) registrou alta de 0,19% em agosto de 2024.
A ‘prévia da inflação’ ficou ligeiramente abaixo da expectativa da nossa área de Análise (0,21%) e levemente acima do projetado pelo consenso de mercado (0,17%). O resultado em linha com o esperado mostrou um cenário de inflação mais benigno, em especial nos núcleos e em serviços.
Os reajustes nos combustíveis — gasolina e etanol — e os impactos da alta do Dólar em itens como móveis e aparelhos eletroeletrônicos foram as maiores pressões inflacionárias no IPCA-15 de agosto.
Na outra ponta, os alimentos seguiram em deflação no período, ainda que em menor intensidade. A mudança da bandeira tarifária de energia elétrica de amarelo para verde e os descontos em passagens aéreas também trouxeram alívio para a prévia da inflação divulgada nesta terça-feira (27).
Os núcleos do IPCA-15 registraram alta de 0,29% na margem em agosto — desacelerando ante julho. O acumulado em 12 do IPCA-15 seguiu praticamente estável, caindo de 3,75% em julho para 3,70% na última leitura.
Nossa área de Análise destaca, no entanto, que essa dinâmica menos pressionada dos núcleos em 12 meses não reduz o desconforto da permanência dos núcleos da inflação acima de um patamar compatível com a meta de inflação, que é de 3% ao ano.
Bens e serviços
A inflação de bens acelerou no período, passando de 0,09% em julho para 0,35% em agosto de 2024. Os preços foram impactados pela forte alta em aparelhos eletroeletrônicos, que subiram 1,2% no mês.
O núcleo de bens subiu para 0,14%. A média móvel de 3 meses anualizada acelerou para 2,9%, refletindo os efeitos da desvalorização do Real. Em termos anuais, o núcleo de bens registrou alta de 0,8% em agosto.
Esse repasse do câmbio para a inflação de bens é um deságio para o cumprimento da inflação para as metas, pois a deflação desse grupo era a principal fonte de desinflação anteriormente.
Os serviços tiveram uma dinâmica mais favorável na margem. O núcleo de serviços — que exclui passagens aéreas — desacelerou, passando de 0,58% em julho para 0,39% em agosto.
A desaceleração dos preços reflete a menor pressão de itens como condomínio, seguro e aluguel de veículo. Em termos anuais, os serviços registraram alta de 5,0% em agosto.
Nossa visão
A grosso modo, o IPCA-15 de agosto ficou em linha com o esperado. Enxergamos uma trajetória positiva nos núcleos da inflação e em serviços.
Considerando os dados desta leitura, a projeção para o IPCA de agosto deverá ser revista de 0,12% para 0,05%. A área de Análise da Monte Bravo mantém a projeção de uma inflação em 4,5% no acumulado de 2024.
No que diz respeito a política monetária, a inflação de curto prazo mais benigna não altera nossa avaliação de que o balanço de riscos segue assimétrico para inflação. A desancoragem das expectativas de inflação, a inflação de serviços pressionada, a atividade robusta e as incertezas fiscais elevadas seguem como fontes dessa assimetria.
Diante desse quadro, avaliamos que o Banco Central deverá retomar o ciclo de aperto da política monetária. Por isso, projetamos dois aumentos de 50 pontos-base na taxa Selic a partir da reunião de setembro, o que levaria a taxa básica de juros para 11,50% ao ano até dezembro.
Texto por Luciano Costa, economista-chefe da Monte Bravo.