- Semana passada foi a mais importante do ano, com eleições, juros e estímulos na China em pauta;
- Agenda de campanha de Trump cria expectativa sobre medidas em várias áreas;
- Política econômica do novo governo americano pode pressionar câmbio e fluxo para países emergents;
- No entanto, a variável mais importantes para os ativos domésticos é o quadro fiscal;
- Brasil precisa de ajuste fiscal para deter a trajetória explosiva da dívida.
Cenário global
Nos EUA, Trump será o 47º presidente dos EUA. O candidato levou os Republicanos a uma vitória ampla nas eleições, com controle do Senado e da Câmara. A agenda de campanha cria expectativa sobre medidas em várias áreas:
Fiscal: espera-se a extensão do Tax Cut and Jobs Act (TCJA) de 2017, com novos cortes de impostos — uma das principais bandeiras na campanha — A medidas seria um estímulo para a economia, mas traria mais inflação.
Tarifas: o presidente eleito falou de uma tarifa de 10% sobre todos os parceiros comerciais e de uma tarifa ‘especial’ de 60% para a China. Isso também geraria mais pressão à inflação.
Imigração: a ideia de atuar agressivamente contra imigrantes ilegais também teria efeito sobre a oferta de mão-de-obra — gerando inflação e recessão
Desregulamentação dos setores financeiro e de energia
Petróleo: aumentar a produção de petróleo para 3 milhões de barris/dia.
A ideia vendida na campanha é de acelerar o crescimento — o que ajudaria a reduzir o déficit — enquanto a queda do petróleo controlaria a inflação. O mercado aumentou o prêmio na curva de juros com medo de inflação, enquanto as bolsas sobem com a aceleração da atividade, desregulação e menos impostos.
Na prática, as propostas carecem de consistência econômica e será preciso esperar a equipe econômica para ter o desenho e o cronograma das medidas, Somente assim, será possível estimar os impactos sobre inflação, atividade e juros e, consequentemente, sobre o dólar e os fluxos de capitais.
O Fed cortou a taxa de juros em 25 pontos base, para a faixa de 4,50% a 4,75% ao ano, conforme amplamente esperado. Na entrevista, perguntado sobre o que espera diante do resultado das eleições, Powell respondeu: “No curto prazo, as eleições não terão efeito sobre nossas decisões […] Não sabemos qual será o momento e o conteúdo de eventuais mudanças políticas.”.
O Fed deve seguir com o ciclo de cortes de juros, reduzindo 25 p.b. em dezembro e, a partir daí, adaptar o ciclo ao cenário do governo Trump. Para 2025, o cenário será mais complicado se a nova administração realmente implementar tarifas significativas ou adotar políticas inflacionárias e, a taxa dos Fed Funds pode atingir um piso mais próximo de 4% do que de 3% no próximo ano.
Cenário doméstico
Por aqui, o Copom elevou a taxa de juros para 11,25% a.a. O comitê citou um balanço de risco assimétrico — em função do ambiente externo desafiador, do forte dinamismo da atividade e mercado de trabalho e da desancoragem das expectativas —, assim como a deterioração fiscal que pressiona o câmbio.
O Copom ressaltou o impacto fiscal sobre os juros: “Os desenvolvimentos recentes da política fiscal impactam a política monetária e os ativos financeiros. A percepção dos agentes econômicos sobre o cenário fiscal tem afetado, de forma relevante, os preços de ativos e as expectativas dos agentes, especialmente o prêmio de risco e a taxa de câmbio. O Comitê reafirma que uma política fiscal crível e comprometida com a sustentabilidade da dívida, com a apresentação e execução de medidas estruturais para o orçamento fiscal, contribuirá para a ancoragem das expectativas de inflação e para a redução dos prêmios de risco dos ativos financeiros, consequentemente impactando a política monetária”.
A questão fiscal segue em foco. A espera de um pacote fiscal que indicará o quanto o governo está comprometido em cumprir as regras do arcabouço fiscal que ele mesmo aprovou em agosto de 2023 e, em abril de 2024 mudou as metas, o que gerou uma intensa corrosão da credibilidade fiscal e está na raiz da disparada dos juros e do câmbio.
O mercado segue na expectativa das medidas e, a despeito da prática pouco usual de chamar os representantes das áreas que terão cortes para a mesa, o presidente Lula precisa ser pragmático e entregar um ajuste fiscal robusto que detenha o crescimento explosivo da despesa e da dívida.
A redução do risco fiscal levaria a uma apreciação do câmbio com impactos positivos sobre todos os ativos brasileiros. Sem isso, a dólar vai passar rapidamente de R$ 6,00 seguir em alta, gerando uma crise econômica grave — similar à fase terminal do governo Dilma —, que dificultaria a perspectiva política do incumbente.