- Semana foi de volatilidade para as ações americanas após divulgação de IA chinesa;
- Nos EUA, Fed manteve os juros inalterados e se mostrou cauteloso frente ao mercado de trabalho robusto;
- No entanto, ainda projetamos três cortes nos juros americanos em 2025 e um cenário construtivo para o mercado de ações;
- Por aqui, a semana foi marcada por entrevista pró-mercado do presidente Lula;
- O Copom decidiu pelo aumento da Selic em 1 p.p., mas sinalizou apenas mais uma alta da mesma magnitude.
Cenário global
A semana foi de bastante volatilidade no mercado acionário dos EUA. As ações de tecnologia despencaram na segunda-feira (27/01) após a startup chinesa DeepSeek apresentar um modelo de IA mais barato e com desempenho comparável ao da OpenAI. Embora o setor de tecnologia ainda tenha fechado a semana em queda, houve uma recuperação ao longo da semana.
O Fed manteve os Fed Funds na faixa entre 4,25% e 4,50% ao ano. O comunicado exibiu uma postura cautelosa do banco central americano face ao crescimento e ao mercado de trabalho robusto.
Nossos modelos projetam uma queda no núcleo do PCE, indicador de inflação que o Fed usa como referência, nos próximos meses. Por isso, projetamos três cortes nos juros, que levariam os Fed Funds para 3,75% a.a. em 2025 — o que seria compatível com a taxa dos títulos de 10 anos oscilando entre 4,00% e 4,50%.
Assim, o cenário nos EUA continua a ser bastante construtivo para o mercado de ações, com a economia passando por um pouso suave, quedas da inflação e juros e a perspectiva de desregulamentação.
Ainda no sábado (01/02), o presidente dos EUA, Donald Trump, decretou uma tarifa de 25% sobre produtos do México e do Canadá. Ele também estabeleceu uma taxa de 10% sobre importações da China. Os EUA movimentam cerca de US$ 1,6 trilhão em negócios com esses três países.
O Canadá respondeu com tarifas retaliatórias próprias, enquanto o México afirmou que estudará a aplicação de taxas sobre importações dos EUA. O governo chinês, por sua vez, declarou que entrará com uma ação judicial na Organização Mundial do Comércio.
Esse movimento fez os mercados de risco entrarem em modo defensivo, com investidores em busca de posições de segurança. Leia mais no nosso Informe Diário.
Cenário doméstico
No Basil, a semana foi marcada pela entrevista coletiva organizada pelo ministro Sidônio Palmeira, na qual o presidente Lula delineou a estratégia publicitária de sua candidatura em 2026. A postura, desenhada pelo ex-marqueteiro e agora ministro após a queda de popularidade, traz de volta o “Lulinha paz e amor”.
É um ajuste da comunicação e não da política. É positivo, pois retira o tom agressivo contra o mercado financeiro que marcou o 2º semestre de 2024, mas no que tange ao ajuste fiscal, Lula foi claro: “[…] se depender de mim, não haverá mais nenhuma medida fiscal”. Como depende dele, parece improvável que o governo encaminhe medidas adicionais de ajuste.
Sem alterações na conduta fiscal que provocou a explosão da dívida, todavia, ficaremos expostos a novos ciclos de volatilidade. A política fiscal segue expansionista e comprometeu a credibilidade do arcabouço, o que produz juros elevados. A conduta fiscal do governo não é compatível com a promessa de Lula de “não gastar mais do que arrecada”.
O déficit primário de 0,4% do PIB em 2024 seria da ordem de 1% sem ajustes contábeis. Em 2025, o déficit deve se manter em torno de 1% do PIB, levando a relação dívida/PIB para perto de 82%.
A perspectiva da proposta de Isenção do IR para quem ganha até R$ 5 mil ser aprovada sem as devidas compensações é um fator de risco adicional com potencial para colocar pressão sobre o câmbio novamente.
A recomendação é adotar um portfólio defensivo, com um aumento expressivo na parcela pós e na parcela exposta a dólar. Além disso, a elevação do risco implica numa redução da renda variável e dos fundos imobiliários. Faz sentido manter alguma posição nos ativos de risco, mas sempre com proteção.