Por Rebeca Nevares, Sócia da Monte Bravo.
Mesmo com o mercado brasileiro agitado por conta da PEC dos Precatórios e furo do Teto de Gastos, a COP26 não tem passado despercebida. Adiada em um ano por conta da pandemia, a conferência, que vai até amanhã, 12 de novembro, lança luz às discussões sobre o clima e a economia.
De acordo com dados do Climate Action Tracker, caso nada seja feito nos próximos 80 anos, projeta-se um aquecimento de 4°C no planeta, o que pode inviabilizar a vida da forma como estamos acostumados.
Ainda que o mercado não sinta os efeitos de curto prazo dos acordos firmados, no longo a tendência é que mudanças significativas aconteçam na economia. Compreender este cenário pode ajudar os investidores a tomarem decisões mais adequadas ao longo do tempo.
Exemplo disso é a crescente demanda por investimentos mais responsáveis. Já existem diversos fundos que só consideram negociar com empresas que se preocupem com melhores práticas sociais e ambientais. Recentemente, também surgiram iniciativas que concedem crédito com taxas mais baixas para negócios que comprovadamente investem em mudanças fundamentadas no conceito ESG.
E o mesmo pode ser dito das pessoas físicas no Brasil, que também têm procurado, de forma cada vez maior, opções de ativos mais responsáveis neste sentido.
Recentemente, a Anbima definiu novas regras para tentar evitar o chamado “greenwashing” entre as gestoras brasileiras. Na prática, as assets que pretenderem “vender sustentabilidade” precisarão atender critérios específicos para ganhar a sigla IS, de investimento sustentável.
Por outro lado, os efeitos na economia são difíceis de serem previstos, mas mudanças sutis já podem ser percebidas. Se você vive em uma capital brasileira, provavelmente já tem visto modelos de carros híbridos, que mesclam energia elétrica e fóssil.
Aqui fica claro que alguns setores tendem a ser mais beneficiados do que outros. Empresas com linhas mais sustentáveis do que os concorrentes, por exemplo, podem ter uma atratividade mais recorrente por seus produtos e serviços no longo prazo.
Além disso, há certa ansiedade para que o mercado global de carbono seja destravado. E o Brasil tem potencial para ser um dos maiores emissores deste tipo de crédito no mundo.
De forma resumida, países e empresas que precisarem reduzir suas emissões poderão comprar créditos de outros agentes que emitiram menos.
Porém, ainda há muito o que evoluir neste sentido. Ainda não se sabe, por exemplo, como padronizar o sistema mundial de medição dos gases emitidos por cada país, algo que praticamente inviabiliza os planos.
Por fim, o Brasil tem um grande potencial para ser protagonista deste novo cenário. Precisaremos provar que estamos fazendo nossa parte para cumprir as metas.
O governo se comprometeu a dobrar o orçamento do Ministério do Meio Ambiente e acabar com o desmatamento ilegal até 2030. É esperar para ver.
Do lado do investidor, há boas oportunidades na mesa. Em uma das lives transmitidas pela Monte Bravo, falamos sobre o aumento de demanda de commodities metálicas como prata e cobre. As duas serão fundamentais para a criação da infraestrutura na qual a nova economia está inserida.
O setor de energia elétrica também é, sem dúvida, outro beneficiário desta mudança. Como destaquei mais acima, meios de transportes híbridos tendem a ganhar cada vez mais espaço em detrimento daqueles movidos a derivados de petróleo.
São mudanças profundas, porém, necessárias. E como investidores, precisamos estar atentos para as atividades que o nosso dinheiro nutre. Os impactos serão vividos por nós, nossos filhos e netos. Pense nisso!