Por Rebeca Nevares, Sócia da Monte Bravo.
Ainda que a pandemia esteja perto do fim em muitos países, os efeitos de 2020 ainda permanecem na economia mundial. Não só o Brasil, mas muitos países têm enfrentado uma crise energética e de demanda industrial. E esses dois drivers explicam, em partes, o que tem pressionado a inflação e, por consequência, os resultados das companhias.
Inicialmente, os números das empresas nos EUA vieram dentro ou acima das expectativas. JPMorgan e Bank of America divulgaram balanços mais positivos que o previsto pelo mercado. Contudo, no dia 28 de outubro, Apple e Amazon, duas das principais potências americanas, divulgaram dados abaixo das expectativas. Os relatórios de ambas apontaram que os problemas na cadeia de suprimentos e aumento de custos com mão de obra prejudicaram suas margens.
Há alguns dias, falava-se que os resultados das companhias americanas estavam acima do esperado em mais de 80% dos casos. Agora, há certa dúvida.
É esperar para ver como chegaremos ao fim desta divulgação, mas fica o aviso de que surpresas desagradáveis podem acontecer no caminho.
No Brasil, os relatórios de algumas das principais companhias listadas na B3 vieram de acordo ou acima do esperado pelos analistas. No caso da Petrobras, os lucros chegaram a R$31,1 bilhões e o destaque positivo ficou para o dividends yields (DY) por ação de 17%.
Já a Vale, por outro lado, que registrou lucro de US$3,9 bilhões, ficou abaixo das expectativas dos agentes de mercado. Ainda assim, analistas dizem que os números são saudáveis e devem permanecer equilibrados por algum tempo.
Ainda é cedo para ter uma visão mais ampla do que ocorrerá com os balanços, mas é preciso já levar em conta os problemas do Brasil ao montar uma carteira. O risco fiscal, o agravamento da inflação e, consequentemente, a elevação da taxa Selic são fatores que prejudicam as perspectivas para a nossa economia e empresas.
Além do mais, mesmo que a temporada seja positiva, analistas dizem que não deve ser suficiente para que o Ibovespa se recupere das recentes quedas. Ou seja, para que a gente veja uma melhora significativa e a confiança do investidor volte, é preciso que a agenda de reformas avance.
Enquanto isso, temos enxergado alguns setores que podem fazer sentido na composição de um portfólio. Vale lembrar que não posso e nem pretendo recomendar as ações da empresa A ou B. O objetivo deste artigo é trazer a visão de pessoas que acompanham o dia a dia do mercado financeiro para que o leitor possa embasar melhor as suas decisões.
Dito isso, um dos setores que dificilmente tem decepcionado nos últimos anos é o financeiro. Beneficiados pela alta da Selic (muitos possuem contratos de crédito indexados pela taxa básica de juros), os resultados de bancos e seguradoras devem agradar.
Além disso, ainda que a Vale tenha ficado abaixo do esperado, os setores de mineração e siderurgia devem apresentar bons balanços. A Gerdau, por exemplo, registrou um crescimento de mais de 600% no lucro.
Por fim, é preciso ainda chamar a atenção para o movimento de elevação de juros nos países de primeira linha. Ao reajustarem suas taxas para cima, acabam por tornar as bolsas de valores menos atrativas.
O momento exige certa cautela por parte do investidor. Existem diversos pontos a serem observados e escolher a melhor forma de se posicionar no mercado não é tarefa das mais simples.
Bons negócios!