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21/02/2024 • 4 mins de leitura
Cenário econômico e política fiscal no Suno Notícias
Resumo do artigo Do conjunto de medidas anunciadas, é estimado…
Resumo do artigo
Petróleo em baixa deve aliviar pressão inflacionária enquanto analistas esperam definições dos EUA
Diante da forte indefinição que cerca os rumos do tarifaço promovido pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, economistas têm adotado bastante cautela para incorporar os efeitos da guerra comercial sobre as projeções para a inflação brasileira em 2025. Em um movimento inicial, aqueles que o fazem veem um viés baixista causado, por causa da queda dos preços do petróleo, que justifica um corte do preço da gasolina pela Petrobras.
No mercado financeiro, no entanto, o comportamento é diferente. Enquanto a mediana do boletim Focus para o IPCA de 2025 está estacionada em 5,56%, um patamar que se mantém desde meados de fevereiro, a inflação implícita de um ano extraída da NTN-B caiu 0,91 ponto percentual desde a última reunião do Copom, em 14 de março, para 4,63%, dados segundo dados da Anbima.
Desde 2 de abril, o proclamado Dia da Libertação de Trump, o contrato mais líquido do barril de petróleo do tipo Brent caiu 11,6% na Intercontinental Exchange, de US$ 74,49 para US$ 65,85, perto dos menores níveis desde 2021. A queda decorre da percepção de que a guerra comercial causará desaceleração do crescimento global, agravada pela intenção da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) de elevar a produção este ano.
Com base nisso, o banco Pine cortou sua projeção de IPCA de 5,25% para 5,10% neste ano. Já a LCA 4Intelligence ajustou de 5,60% para 5,50% a sua estimativa para o ano, levando em consideração um corte “modesto” dos preços na refinaria, de 3% já na próxima quinzena.
“Em meio à forte volatilidade do cenário global, o petróleo é forma mais palpável de incorporar a guerra comercial nas projeções no momento, resume o economista da LCA 4Intelligence Fabio Romão.
O Itaú Unibanco baixou de 5,70% para 5,50% sua estimativa para o IPCA este ano, citando a expectativa de corte do preço da gasolina nas refinarias e também a queda dos preços de commodities metálicas, que deve se refletir sobre a inflação de bens industriais.
“O cenário global segue marcado por elevada incerteza, com as tarifas comerciais no centro das discussões. Para o Brasil, avaliamos dois canais principais de impacto: o direto, via comércio, tende a ser limitado, dado o reduzido grau de abertura comercial da economia brasileira; e o indireto, via desaceleração global, queda nos preços de commodities e fluxos financeiros em ambiente de aversão ao risco, que pode ser mais relevante”, escrevem os economistas do Itaú.
A Monte Bravo também reduziu sua projeção para 2025 em 0,50 ponto porcentual (p.p.), de 6,50% para 6%. Deste total, 0,20 ponto está na conta de um corte do preço da gasolina nas refinarias que pode chegar a 10%, diz o economista-chefe Luciano Costa. O alívio restante está dividido entre pressões mais brandas sobre preços de alimentos e bens industriais.
“As commodities em reais já caíram 6,30% no primeiro trimestre, sendo 3 p.p. deste total somente em março. E foi um movimento foi concentrado em agricultura e energia”, explica. Com base nesse movimento, ele cortou de 8% para 7% a projeção para alimentação no domicílio este ano. Já a estimativa para industriais passou de 5,5% para 4,7%, apoiada pela visão de que a China vai redirecionar parte de sua produção que iria aos EUA para outros mercados.
“Nosso cenário parte da hipótese que a tarifa efetiva dos Estados Unidos para o mundo vai subir entre 13 e 15 pontos. No entanto, se as negociações fracassarem e ela crescer mais, isso provavelmente significará mais desaceleração global e nova piora dos preços de commodities”, acrescenta Costa. “O efeito final desse movimento certamente depende de quanto o câmbio vai desvalorizar com essa nova pernada. O padrão que observamos até aqui, no entanto, é que a queda das commodities tem mais do que compensado o efeito da alta do dólar.”
A AZ Quest também revisou sua projeção, de 5,70% para 5,50%, mas o movimento foi fruto de leituras melhores que o esperado da inflação corrente. A guerra tarifária, por hora, segue no campo do balanço de riscos, que deixou de ser altista e se tornou neutro.
Além de um potencial reajuste da gasolina, o economista Lucas Barbosa avalia que pode ocorrer algum alívio extra vindo de industriais. “Temos 3,60% para a inflação de industriais este ano levando em consideração um câmbio de R$ 6. Já estamos em abril e a média do ano está em R$ 5,83”, nota.
O viés da guerra tarifária sobre a inflação de alimentos, por outro lado, é difícil precisar no momento. “Embora o preço de alguns produtos tenha caído no mercado internacional, a soja subiu no Brasil. Isso pode ser reflexo de uma maior demanda por nossos produtos pela China, por exemplo”, ressalta. “O preço das carnes também tem se mantido competitivo lá fora. Então qualquer demanda adicional do exterior pode pressionar os preços domésticos principalmente no quarto trimestre, quando o ciclo da carne já estará negativo.”
O Itaú também coloca o setor de alimentos como risco altista para este ano. “O aumento das exportações de produtos agrícolas, impulsionado por tensões no comércio global, pode gerar pressão adicional sobre os preços domésticos”, diz o banco, notando que no primeiro governo Trump, na disputa com a China, houve ágio significativo entre cotação domésticos”, diz o banco, notando que no primeiro governo Trump, na disputa com a China, houve ágio significativo entre cotação doméstica e a internacional.
Romão manteve sua projeção de desaceleração do grupo alimentação no para 7,5%, de 8,2% em 2024. Ele admite que o eventual aumento da participação brasileira no fornecimento de produtos agropecuários ao exterior pode aumentar os preços no mercado doméstico, mas não vê esse efeito como “preponderante”, no momento. Romão também prefere cautela diante da hipótese da “inundação” de produtos chineses no mundo. “A gente entende que vai ocorrer alguma moderação dessa escalada tarifária, até porque o movimento foi bem agressivo.”
Notícia publicada no Valor Econômico.