Se alguém esperava que a taxa básica de juros no Brasil poderia dar uma trégua e parar nos 13,25% definidos ontem pelo Banco Central, é hora de rever as expectativas. Gestores e economistas ouvidos por VEJA são unânimes: a Selic vai, no mínimo, encostar nos 15% ao ano, se não ultrapassar essa marca.
A reportagem procurou uma dezena de casas, que projetam a Selic entre 15,25% e 15,75% até fim do ano. O movimento é esperado pela confiança que os agentes de mercado estão construindo com o Comitê de Política Monetária (Copom), depois que a autoridade afirmou que fará uma nova alta da taxa de juros na reunião de março e observará o andamento da inflação para dar os próximos passos.
Para Álvaro Frasson, economista do time de Portfolio Solutions do BTG Pactual, o BC “parece estar confiante em torno dos aspectos baixistas da inflação”, já que a forte desancoragem das expectativas de inflação “não resultou em uma comunicação mais enérgica” sobre o tema. Assim, considerando que a autoridade monetária manteve seu compromisso de controle da inflação “para além da próxima reunião”, o BTG espera que o ciclo de alta não termine em 14,25%, embora possa ter um ritmo mais brando a partir de maio.
Na mesma linha, Natalie Victal, economista-chefe da SulAmérica Investimentos, acredita que a comunicação adotada ontem pela autoridade já está considerando a atividade como risco de baixa para a inflação, além de ter trazido uma projeção de inflação de 4%, na banda inferior das expectativas do mercado, e de ter retirado o plural na indicação da política monetária para as próximas reuniões.
“A sensação que fica é que a autoridade monetária já está pensando nas defasagens de política monetária”, afirma a economista, que espera uma alta de 1 ponto percentual em março e uma Selic em 15% ao ano.
Seja como for, o mercado segue à espera de um Copom mais duro em relação à política monetária, com continuidade do ciclo de altas da Selic enquanto a inflação não dar sinais de que está convergindo para a meta. Para o time de economia do Banco Pine, liderado por Cristiano Oliveira, o Comitê demonstrou interesse em ter liberdade na sua atuação para o futuro e segue com comunicação inclinada à alta de juros (“hawkish”, no jargão do mercado.)
“Para apoiar nossa análise, lembramos que o ‘termômetro do Copom’ desenvolvido através de algoritmo de machine learning indica que esse comunicado é o segundo mais duro da série analisada que começa em 2015”, diz o banco.
As implicações para os mercados também são relevantes a partir da decisão e das perspectivas para o Copom de agora em diante. Segundo a Monte Bravo, a elevada incerteza fiscal e o nível de juros não justificam uma alocação mais ampla em ativos de risco. A recomendação é manter uma carteira defensiva, com investimento em títulos pós-fixados e “aumento expressivo” da parcela indexada ao dólar, direta ou indiretamente.
Matéria publicada na Veja Negócios.