Um dos principais instrumentos de planejamento no país, o Relatório Focus, chamado informalmente de “consenso de mercado”, errou quase tudo em 2024. As primeiras projeções econômicas do ano apontavam para PIB de 1, 52%, dólar a R$ 5 e taxa básica de juro de um dígito.
Ainda em 2 de janeiro, a posição dominante de cerca de cem economistas consultados pelo Banco Central (BC) para elaboração do Relatório Focus, apresentado às segundas-feiras, era de que a economia brasileira desaceleraria, abrindo espaço para a redução da Selic.
Conforme o economista-chefe da Monte Bravo, Luciano Costa, entre o primeiro e o último dia útil de 2024, houve grande recálculo de rota por aumento de gastos com transferência de renda – como os repasses via Benefício de Prestação Continuada (BPC) – e outras áreas. Em tese, isso acelera a economia e facilita o repasse de preços. Em consequência, o BC precisa elevar o juro – ou deixar a taxa básica alta por mais tempo.
O Focus publicado na segunda-feira (31) consolida esse cenário e mostra que a projeção de crescimento do PIB do país deve mais do que dobrar comparada à perspectiva do primeiro relatório do ano, de 1, 52% para 3, 49%.
A Selic, por outro lado, começa 2025 com viés de alta. A projeção em janeiro era de que o juro básico desceria até 9% em 2024. Nem perto de um dígito, a taxa encerra o ano em 12, 25%. Para 2025, o mercado estima taxa em 14, 75%.
Também passaram longe das projeções iniciais indicadores como IPCA e dólar, que fechou o ano em R$ 6, 179 – alta de 27% no ano.
Segundo Costa, parte da apreciação da moeda norte americana é consequência da eleição de Donald Trump. No início do ano, o favoritismo estava com os democratas, o que contribuía com o cálculo de cotação mais próxima de R$ 5. A vitória do republicano, com pauta mais protecionista, tende a fortalecer o dólar ante todas as demais moedas.
Boa parte da pressão que leva à constante alta do dólar também está ligada à preocupação do mercado financeiro com o aumento da dívida pública brasileira. O economista-chefe da Monte Bravo afirma que houve elevação do risco fiscal durante o ano, que afetou o dólar.
O menor dos erros veio do IPCA. Mas ainda que a previsão dominante do primeiro Focus de 2024 já indicasse inflação acima da meta, a 3, 9%, não previa estouro do teto, de 4, 5%. O último Focus de 2024, apresentado nesta segunda-feira, aponta IPCA em 4, 90% no ano. Em 2025, 4, 96%.
– Todas essas variáveis trazem um nível de incerteza para a economia, que se reflete no índice de condições financeiras. Em 2024, a incerteza subiu. Teremos impulso negativo vindo desse indicador para 2025 – diz Costa.
Matéria produzida pelo Zero Hora.