Em entrevista à Bloomberg Línea, Alexandre Mathias diz que o governo perdeu o benefício da dúvida até de quem apostou a favor de um cenário benigno e que juro mais alto reflete perda da credibilidade
A Monte Bravo avalia que o Banco Central pode ser obrigado a acelerar a alta de juros para 0,75 ponto percentual já nas próximas duas reuniões do Copom se o governo não for capaz de restaurar a credibilidade da política fiscal, segundo o estrategista-chefe, Alexandre Mathias.
Somado a mais uma alta de 0,50 ponto, isso levaria a Selic a atingir 13,25% ao ano no final do ciclo – um aumento de dois pontos em relação ao nível atual de 11,25%.
Em entrevista à Bloomberg Línea, Mathias afirmou que esse é o cenário-base da corretora, no qual o ajuste fiscal em elaboração pelo governo não traz melhoria significativa nas expectativas para o resultado primário e para a trajetória da dívida bruta, hoje equivalente a 78,3% do Produto Interno Bruto (PIB).
Economistas do mercado financeiro estimam que o governo terminará o ano com um déficit primário de 0,50% do PIB neste ano, de acordo com o Boletim Focus, divulgado nesta segunda-feira (25).
Para os anos seguintes, a projeção é a de déficit fiscal de 0,70% em 2025 e de 0,50% em 2026, ainda distante da meta da equipe econômica de atingir um resultado primário em torno de zero.
Neste ambiente, segundo o estrategista, a cotação do dólar se mantém na faixa atual de R$ 5,70 a R$ 5,90, a inflação fica em torno de 5% ao ano em 2025, o que dificulta cortes da Selic, e o crescimento do PIB desacelera a 1,50% nos próximos dois anos.
“Selic mais alta é o custo de a política fiscal não ganhar credibilidade. E significa investimento menor, crescimento menor, desemprego maior. Não tem benefício nisso, disse Mathias, em entrevista realizada no escritório da corretora no momento em que o governo ainda estudava medidas do pacote fiscal – cenário que persiste neste começo da última semana em novembro.
O estrategista-chefe atribui uma chance de 50% para o cenário-base.
Já em um cenário otimista, no qual o ajuste fiscal contribui para reduzir o déficit primário a zero, o Banco Central poderia ter que fazer mais duas altas de 0,50 ponto, levando a Selic a 12,25%.
Assim, o dólar cairia para o patamar de R$ 5,40, a inflação ficaria em torno de 4,20% no ano que vem e o PIB cresceria por volta de 2%, segundo a projeção da corretora. Mathias disse que ainda vê chances de 45% para que isso ocorra.
Sobre os fatores que podem levar a um cenário otimista, o estrategista-chefe avaliou que o mais importante nesse momento é o peso político que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva vai colocar em cima do ajuste.
“Se Lula disser que entende que é preciso ajustar a trajetória do gasto para produzir uma situação fiscal mais sustentável e que o governo e o PT vão se esforçar para aprovar as medidas sem ruído, sem confronto, então existe espaço para um cenário otimista”, afirmou.
O risco, no entanto, é o presidente continuar com o discurso ambíguo e manter a postura de confronto com o mercado financeiro, como tem sido sua marca durante os dois primeiros anos do seu mandato. Neste caso, o ambiente econômico não muda.
“O discurso errado tira a credibilidade da política certa. É o que temos visto”, disse o estrategista-chefe.
Confira a entrevista publicada na Bloomberg Línea na íntegra: clique aqui.