O que esperar da eleição nos EUA? - Monte Bravo

O que esperar da eleição nos EUA?

05/11/2024 às 10:00

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Terça

Nov

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Entenda como a vitória de cada um dos candidatos pode influenciar a economia e os mercados globais.

  • Disputa segue acirrada, com pequeno favoritismo para Donald Trump;
  • Modelo eleitoral arcaico é fator de incerteza;
  • Republicanos são favoritos para controlar o Senado;
  • Câmara tende levemente para os Democratas;
  • Kamala Harris representa a manutenção do status quo;
  • Trump teria política comercial mais dura e combate à imigração, além de ampla desregulamentação;
  • No entanto, espera-se que a retórica de campanha do ex-presidente seja amenizada para não gerar inflação e recessão.

Na véspera das eleições americanas, é impossível dizer quem será o vitorioso. O que se sabe é que os mercados acompanharam o movimento das casas de apostas, que apontam um favoritismo do ex-presidente Donald Trump.

O resultado disso é que, desde o final de outubro, o dólar tem se fortalecido e as taxas de juros atingiram o ponto mais alto em três meses.

É importante lembrar, no entanto, que historicamente o mercado de ações dos EUA apresenta um bom desempenho após as eleições. Nos últimos 80 anos, somente em três ocasiões a bolsa não registrou ganhos entre o período eleitoral e o fim do ano. A explicação está no fato de que o mercado costuma seguir a economia e os fundamentos das empresas, sem se apegar aos ruídos inerentes às campanhas eleitorais.

Muita coisa está em jogo nesta eleição e com efeitos sobre o mundo todo. Inflação, imigração, aborto e política externa estão entre as questões centrais do debate em 2024. A composição do Congresso, porém, será fundamental para determinar a extensão com que as propostas poderão ser implementadas.

Vale dizer que os EUA têm um sistema eleitoral arcaico. O presidente é eleito por um Colégio Eleitoral, onde 538 delegados eleitorais se reúnem para eleger o chefe do executivo algumas semanas após o voto popular. Em 2016, por exemplo, Hillary Clinton recebeu cerca de 2,7 milhões de votos populares a mais que Trump, mas mesmo assim perdeu a eleição.

No Congresso, as pesquisas indicam alta probabilidade de que o Senado fique sob o controle dos Republicanos. A Câmara, por outro lado, tem um quadro indefinido — com pequena vantagem dos Democratas.

Na prática, Kamala Harris deve seguir o desenho geral das políticas econômicas de Biden caso seja eleita, sem grandes alterações no status quo.

E se Trump vencer?

Em caso de vitória do candidato republicado, a expectativa é que se tenha uma política comercial mais dura, menos regulamentações e um relaxamento das regulações sobre mudanças climáticas. Trump apresentou uma agenda econômica populista que afirma garantir empregos, penalizando empresas que transferem operações para o exterior.

Nesse cenário, as ações de empresas ligadas a armamentos e gastos militares e as farmacêuticas tendem a ser favorecidas. O setor de exploração de petróleo também pode ser beneficiado com a menor ênfase nas políticas ambientais. Além disso, os criptoativos também podem subir em caso de eleição de Trump.

A questão é que as propostas de Trump — mais protecionismo e restrições à imigração — podem levar a um menor crescimento e a mais inflação. Trump propôs tarifas de 60% sobre produtos da China e de 10 a 30% para outras regiões. Caso sejam colocadas em prática, essas propostas podem reduzir o crescimento do país em 1,4% e elevar a inflação em 0,9% ao ano.

De acordo com o Penn Wharton Budget Model da Universidade da Pensilvânia, o plano de Trump adicionaria US$ 5,8 trilhões em déficit ao longo de uma década. Em comparação, o modelo calcula um montante de US$ 1,2 trilhão em caso de uma eleição de Harris.

Além disso, sob o comando de Trump, a política de imigração proposta removeria pelo menos 1,3 milhão de pessoas dos Estados Unidos, o que traria uma forte escassez de mão de obra e pressão nos preços. Um estudo do Peterson Institute for International Economics estimou que esse choque levaria a uma alta de 1,5% na inflação e a uma queda de mais de 3% do PIB em três anos.

Mas uma coisa é o que o candidatos diz e outra coisa é o que o presidente eleito efetivamente fará. Por isso, a expectativa dominante é que, na prática, as propostas sejam amenizadas e parametrizadas para não ter consequências tão negativas na economia. Trump é reconhecidamente um negociador agressivo e usa isso como alavancagem para obter concessões e, nessa linha, os mercados entendem que a maior parte dessa retórica seja uma arma eleitoral e negocial.

Os fundamentos econômicos apontam que a economia dos EUA está em processo de aterrissagem, com a inflação convergindo e permitindo que o Fed reduza os juros. Não é do interesse de nenhum presidente entornar o barco que está navegando para um porto seguro.

Mesmo que as propostas sejam amenizadas, no entanto, a vitória de Trump provavelmente implicará em menos fluxos para países emergentes — o que aumenta a importância do pacote fiscal que Haddad está preparando. Sem um pilar fiscal sólido, existe o risco de o dólar seguir em alta, ultrapassar R$ 6,00 em curto espaço de tempo e gerar uma crise econômica grave.

*Conteúdo originalmente publicado Informe Semanal Monte Bravo do dia 04/11/2024.

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