- Diretores do Fed se mostram confiantes no pouso suave da economia americana;
- Por aqui, mantemos nossa projeção de altas de 50 p.b. na Selic, mas quadro fiscal aumenta chances de um ciclo de aperto monetário estendido;
- Mesmo com o fiscal limitando uma arrancada forte, os ativos brasileiros vão se beneficiar do fluxo estrangeiro.
Cenário global
Ata do Fed: Segundo a ata da reunião, parte dos diretores era favorável a um corte inicial menor, de 25 p.b., tendo em vista a sólida situação da economia e os riscos de reaceleração da inflação por conta de fatores externos e domésticos. Outro grupo, que prevaleceu, se mostrou favorável a um corte maior, de 50 p.b., pela necessidade de sustentar a atividade econômica e o mercado de trabalho. Um terceiro grupo defendeu esta opção porque preferia ter iniciado o ciclo de cortes na reunião anterior.
Diretores do Fed: Ao longo da semana, diversos diretores do Fed falaram sobre o cenário para os EUA e todos se mostraram confiantes no pouso suave da economia e na desaceleração da inflação, abrindo espaço para uma gradual flexibilização da política monetária.
Inflação nos EUA: O CPI de setembro, após um período de variações mensais bastante baixas, trouxe uma alta mais forte. O núcleo do CPI subiu apenas 0,13% por mês entre maio e julho, mas voltou a subir 0,30% por mês em agosto e setembro, um nível bastante incompatível com a meta de 2%.
Em setembro, o núcleo do PPI (excluindo alimentos, energia e serviços de comércio) ficou ligeiramente abaixo das expectativas do mercado, subindo 0,1% no mês, enquanto a taxa anual caiu um décimo para 3,2%. Com base nos dados do PPI, a projeção do núcleo do PCE de setembro é de 0,27% com, a taxa anualizada de 3 meses em 2,2% e a taxa anual caindo de 2,68% para 2,61%.
Cenário doméstico
Inflação no Brasil: O IPCA encerrou setembro com alta de 0,44% e atingiu 4,42% na taxa anual. A aceleração na margem decorreu dos avanços de preços administrados, impulsionados por energia elétrica devido ao acionamento da bandeira vermelha 1. As altas de Alimentação no domicílio — com destaque para carnes, tubérculos, raízes e legumes e leites e derivados — também contribuíram.
A média do conjunto de núcleos acompanhado pelo BC ficou abaixo das expectativas de mercado, em 0,22% no mês e 3,81% na taxa de 12 meses. Mas a média móvel de três meses dessazonalizada e anualizada da média dos núcleos voltou a subir ao passar para 4,9%, ante 4,6% em agosto.
Copom: Mantemos a visão de apertos de 50 p.b. nas próximas reuniões. Ao mesmo tempo, reconhecemos que a deterioração do quadro fiscal — que leva à depreciação do real — eleva o risco do ciclo ir além dos 12% a.a. que projetamos para taxa Selic em janeiro.
O espaço para o BC ter margem para encerrar o ciclo de alta em janeiro depende crucialmente de melhora da percepção fiscal e da apreciação da taxa de câmbio. Podemos dizer que será a política fiscal que vai determinar a extensão do ciclo de aperto da Selic, uma política fiscal muito expansionista exige uma política monetária muito apertada.