Cenário global
O choque de volatilidade do início de agosto parece superado — sem grandes consequências para o equilíbrio dos mercados e para a trajetória das economias.
Na sexta-feira (23), o presidente do Fed Jerome Powell fez seu discurso em Jackson Hole e praticamente decretou o início do ciclo em setembro.
Ele reiterou que “a economia continua a crescer em um ritmo sólido”, mas que “a confiança cresceu de que a inflação está em um caminho sustentável de volta aos 2%” e que “chegou a hora de ajustar a política [monetária]”. A fala sanciona o início do ciclo em setembro, reforçando que “o ritmo dos cortes depende dos dados, das perspectivas e do balanço de riscos.”
Powell reconheceu que o mercado de trabalho esfriou, mas avalia que o aumento do desemprego não foi resultado de demissões elevadas. Na visão do Fed, os números refletem um aumento na oferta de trabalhadores e uma desaceleração no ritmo anteriormente frenético de contratações. “Não buscamos ou desejamos mais esfriamento nas condições do mercado de trabalho”, concluiu.
Os ativos de risco aceleram a tendência de alta após o discurso de Powell. A taxa do título de 10 anos do Tesouro dos EUA fechou a semana em 3,80%, enquanto o título de 2 anos do Tesouro caiu para 3,91%. O índice DXY, que mede o dólar contra seis pares desenvolvidos, recuou para 100,7 — seu nível mais baixo do ano.
Os mercados seguem atribuindo alguma chance do Fed cortar 50 p.b. na reunião de 18 de setembro. O total de cortes projetados pelo consensoestá em 100 p.b. nas próximas três reuniões. Na visão da Monte Bravo, o Fed vai fazer um ciclo de cortes no ritmo de 25 p.b. por reunião.
Cenário doméstico
Enquanto nos EUA o cenário evoluiu conforme projetávamos, no Brasil a comunicação do BC acabou criando um custo adicional de credibilidade para manter a Selic estável.
Depois do abalo na credibilidade da política monetária causada pelas declarações do presidente Lula — ao dizer que o próximo presidente do BC, indicado por ele, cortaria juros —, o provável sucessor de Campos Neto deflagrou uma escalada verbal para recuperar credibilidade.
Nesse processo, as falas mais duras de Gabriel Galípolo, que tinham a intenção de desfazer a interpretação de que o BC teria qualquer restrição para aumentar os juros caso necessário, acabaram dando a impressão de que a alta estava sacramentada.
A reação em alta dos preços dos ativos brasileiros atestou que o reforço da credencial antinflacionária seria bem-vinda em função da redução do risco de inflação.
Depois disso, os diretores tentaram modular a conclusão de que a alta estaria definida, dizendo que dependeria dos dados. Mas isso acrescentou mais ruído e fez o câmbio saltar 2% na quinta-feira (22).
Nossa avaliação era de que ainda que existam elementos de desconforto no cenário diante da desancoragem das expectativas em um ambiente de atividade e mercado de trabalho mais aquecidos do que o esperado. Por isso, seria razoável esperar mais pela evolução do quadro global e das medidas fiscais em gestão na Fazenda.
No entanto, com o câmbio ainda muito volátil e sem uma resolução da incerteza fiscal, o BC caiu numa armadilha. Agora, se não sancionar a comunicação mais dura com um aumento haveria um dano ainda maior em termos de credibilidade.
Por isso, estamos revisando nosso cenário base e assumindo um BC mais preocupado em assegurar a convergência da inflação para centro da meta, sem usar o intervalo de tolerância como anteriormente projetado.
De fato, dada a força da atividade e do emprego, uma alta técnica com dois movimentos de 50 p.b. levando a Selic para 11,50% teria um custo pequeno para a economia e um grande benefício em termos de credibilidade. A redução da percepção de risco tende a fazer o real se valorizar e a induzir uma queda das taxas de juros longas, o que também beneficia a Bolsa e fundos imobiliários. Nesse contexto, com o Fed cortando juros, os ativos de risco no mundo inteiro tendem seguir em alta. Por aqui, o reforço de credibilidade do BC favorece uma apreciação adicional da taxa de câmbio rumo a R$ 5,30 por dólar.
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