A quinta-feira (22) foi movimentado para os diretores do Banco Central do Brasil.
Os diretores de política econômica, Diogo Guillen, e de política monetária, Gabriel Galípolo, marcaram presença em eventos hoje. As falas trouxeram insights importantes para o mercado sobre a atuação do Banco Central no futuro próximo.
A seguir, confira a visão da área de Análise da Monte Bravo sobre os discursos dos diretores:
Diogo Guillen na PUC-Rio
Apresentação de Diogo Guillen nesta quinta, assim como Roberto Campos Neto ontem, indica que o BC quer recalibrar a mensagem sobre a Selic. A intenção da autoridade monetária é indicar que as duas opções (manutenção e alta) estão na mesa, mas que nada está decidido ainda.
O discurso de Guillen deu ênfase na coesão do diagnóstico e na atuação com visão de longo prazo.
Cenário externo
Guillen citou um ambiente adverso devido às incertezas sobre a atividade e ritmo de desaceleração, com ciclos econômicos menos sincronizados.
Nos EUA, mais especificamente, o diretor do BC enxerga que a incerteza deixa de ser sobre o ciclo de corte de juros e passa a ser sobre a extensão e impactos dele. O mercado de trabalho apresenta uma desaceleração gradual. Ele ainda citou que a economia segue robusta, mas existem dúvidas sobre excesso savings e as condições financeiras continuam apertadas.
Câmbio
O câmbio segue volátil. Esta volatilidade cambial, junto a um cenário de incertezas globais, exige cautela na condução da política monetária.
Atividade
A atividade econômica e o mercado de trabalho domésticos seguem com maior dinamismo do que o esperado. O desemprego segue caindo. Os últimos três trimestres de ganhos reais nos salários indicam um mercado de trabalho apertado.
Atividade e mercado de trabalho seguem com maior dinamismo do que o esperado
Cenário Fiscal
O cenário ideal seria uma mudança via demanda. No entanto, a dívida elevada tem impacto direto sobre as condições financeiras.
Guillen destacou o movimento de alta da curva de juros após mudanças nas metas fiscais e que o Questionário Pré-Copom (QPC) trouxe uma deterioração nas expectativas fiscais.
Inflação
Projeções de inflação estão em alta. Independente do motivo, esta desancoragem precisa ser combatida. Caso o movimento de expectativas de inflação e de câmbio se mostrem persistentes, os impactos inflacionários podem ser relevantes e serão devidamente incorporados pelo Comitê.
Os sinais, no entanto, são de arrefecimento. Estamos atualmente no segundo estágio, onde as expectativas e o hiato do produto se tornam mais relevantes. A inflação de serviços exige atenção.
Em seu Cenário Alternativo, visando 6 trimestres a frente, o Copom projeta a inflação em 3,2% — acima da meta.
Crédito
Guillen avalia que o clico segue benigno, ainda que com taxas mais elevadas
Balanço de Riscos
O balanço de riscos está assimétrico, com maior risco de inflação. No entanto, o diretor do BC apontou que este não é guidance utilizado pela instituição no momento.
Considerações finais
Apesar de não fornecer um guidance para as próximas reuniões, o Copom reforça alguns pontos: cautela, vigilância, acompanhamento ativo dos fatores que podem influenciar na política monetária e compromisso com a meta — esse reforçado repetitamente pela autoridade monetária ao longo de agosto.
Gabriel Galípolo na Fenabrave
Galípolo reafirmou suas falas recentes e explicou que o tom duro dessas falas desfez a interpretação de que o Copom teria uma restrição para aumentar os juros se isso for necessário. E este ganho de credibilidade é importante para reduzir risco.
No entanto, o provável futuro presidente do BC, em linha com os outros diretores, enfatizou que a decisão da reunião de setembro não está definida e depende da evolução dos dados até 18 de setembro. O principal tema abordado pelo dirigente foi a inflação e o combate à mesma pelo BC.
“Quero reafirmar todas as falas recentes, não tenho nada a modular nas mensagens que passei”, afirmou Galípolo.
O provável sucessor de Campos Neto apontou que a inflação segue acima da meta no horizonte de 18 e repetiu seu discurso mais duro sobre o cumprimento da meta. Galípolo enfatizou inclusive que uma inflação de 3,2% é, sim, acima da meta e que a o intervalo de tolerância não será usado para reduzir o esforço de cumprir a meta de 3,0% ao ano.
Ele ainda apontou que o cenário de inflação está desconfortável e que a desancoragem das expectativas incomoda o BC. Assim como Guillen, Galípolo disse que o balanço de riscos está assimétrico, mas reforçou que o Copom não tem guidance para a próxima reunião.
Por fim, o diretor citou que muitos dados serão divulgados entre hoje e a reunião de política monetária em setembro. Citou também a atividade acelerada, a taxa de desemprego em sua mínima de 10 anos e o mercado de crédito em expansão.
Monte Bravo Analisa
BC fez um esforço de comunicação para corrigir a mensagem de que a alta de setembro já estaria contratada. A entidade enfatizou que a decisão dependerá dos dados e do cenário posto no momento da próxima reunião, que acontece entre os dias 17 e 18 de setembro.
Além do recuo no tom das falas, o quadro de atividade forte, desemprego baixo, inflação de serviços alta e — principalmente — a desencoragem das expectativas geram um quadro em que um ciclo curto de alta traria muitos ganhos, tanto de credibilidade como em termos de preços dos ativos.
A área de Análise da Monte Bravo aguarda a fala de Jerome Powell amanhã (23) às 11h para definir o nosso cenário de Selic.