Julho, até então, foi marcado como um mês de leve alta do dólar frente ao real. Até a reta final deste mês, a divisa norte-americana valorizava-se cerca de 0,8% frente à brasileira, apesar de ter perdido força mundialmente. Especialistas enxergam, no entanto, que agosto pode contar com uma folga para o câmbio local.
Apesar de o dólar ter caído frente outras moedas de países desenvolvidos, com o índice DXY saindo do patamar de 105,90 pontos no começo de julho para 104,5 hoje, o real perdeu força, por motivos como: desvalorização das commodities, desmonte de posições de carry trade e, um pouco, pelo risco fiscal local.
Dólar mais fraco frente moedas fortes
O que explicou a perda de força da moeda dos EUA no mundo foi, basicamente, o recuo dos treasuries yields — os rendimentos pagos pelos títulos da dívida pública do país. Dados macroeconômicos dos EUA mais fracos, como o índice de preços de gastos com consumo (PCE, na sigla em inglês), e falas de dirigentes do Federal Reserve(Fed, o banco central americano) derrubaram as taxas, o que levou a um fluxo de retirada de dinheiro do país, enfraquecendo o dólar.
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E para agosto, a visão é de que essa tendência se manterá. O Fed, na reunião de amanhã, de acordo com o consenso do mercado, deverá sinalizar que fará um corte das taxas em setembro, o que deve enfraquecer mais a moeda mundialmente. E o real pode se beneficiar disso.
“Para agosto, a nossa visão é que a perspectiva de queda dos juros nos EUA deve ganhar força. Se o Fed sinalizar na reunião de amanhã de que o corte de setembro está se tornando mais provável, vemos um enfraquecimento do dólar”, comenta Luciano Costa, economista-chefe da Monte Bravo Corretora, que enxerga o câmbio indo para R$ 5,50 ou R$ 5,40 ao longo de agosto.
Outras variáveis
O dólar em julho não caiu frente às moedas emergentes, como o Brasil, por outros fatores. Como já mencionado, no exterior, o que ajuda a explicar isso, principalmente, foi o desmonte de posições de carry trade, gerado pela possível alta dos juros no Japão, e o enfraquecimento das commodities.
No primeiro ponto, a moeda japonesa tem acumulado ganhos contra a divisa norte-americana em meio a suspeitas de intervenção cambial das autoridades e à especulação de que o Banco do Japão (BoJ, na sigla em inglês) elevará os juros em sua reunião na próxima semana.
Um iene valorizado ante o dólar e a possibilidade de diminuição no diferencial de juros entre Japão e Estados Unidos levam investidores a reverterem operações de “carry trade”, quando tomam ativos locais com juros baixos para rentabilizar em outros com juros mais altos. E o Brasil se beneficia deste movimento.
“Acabou tirando um canal de financiamento que o mercado estava usando, que era a moeda do Japão, para comprar juros altos no Brasil”, explica Costa, economista-chefe da Monte Bravo Corretora.
Já no caso das commodities, as desacelerações das economias dos EUA e da China (que teve seu PIB frustrando no segundo trimestre) ajudam a explicar a queda dos preços dos produtos não-manufaturados. Os dois países são os principais consumidores deles e, quando compram menos, deixam de enviar dinheiro para os países emergentes, principais produtores, impactando as balanças comerciais.
Nessas frentes, se o Bank of Japan (BoJ, o banco central do país) surpreender com uma alta de juros mais forte do que o esperada, o real pode sofrer mais um pouco. Fora isso, os preço das commodities também seguem monitorados de perto pelos especialistas.
Risco fiscal
Já no Brasil, o risco fiscal, por fim, também deve continuar nos holofotes. Julho foi marcado por falas mais brandas do executivo do Governo Federal, que durante parte do primeiro semestre ajudou a desvalorizar o real com ataques, por exemplo, ao Banco Central e com relativizações da necessidade de conter gastos públicos. Fora isso, houve também o anúncio de corte de gastos e contigenciamento.
Há também os comentários, por fim, de que os cortes de despesas anunciados são insuficientes para melhorar a situação. Assim, com um déficit maior, o real acaba perdendo valor frente ao dólar.
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