O Simpósio de Política Econômica do Federal Reserve de Kansas City, também conhecido como Jackson Hole, é uma reunião histórica, que ocorre desde 1978, no estado americano de Wyoming.
O encontro de três dias, neste ano entre os dias 25 e 27 de agosto, reúne autoridades do Banco Central dos Estados Unidos e de outros países, além de especialistas em economia governamental, investidores e intelectuais. O simpósio é prestigiado não só pelo nível das discussões e envergadura das personalidades que participam, mas por ser um fórum antecipador de tendências que podem gerar impactos na economia.
Considerado o mais importante encontro de presidentes de bancos centrais do mundo, o Jackson Hole ganhou mais fama com a participação de Ben Bernanke, que presidiu o FED entre os anos de 2006 e 2014. Em sua gestão, lidou com a crise financeira de 2008 e seus discursos ficaram marcados, justamente, pelo estresse econômico mundial no período.
Bernanke é admirado por ter atuado para evitar um tombo maior da economia americana e criar por políticas de estímulo econômico, apesar das críticas na sua demora em prever o estouro da bolha das hipotecas “subprime”. As declarações durante o Simpósio de Jackson Hole anteciparam medidas que seriam tomadas pelo BC americano na época.
O fato ajudou a fortalecer a fama do Simpósio de Política Econômica do Federal Reserve de Kansas City como um local onde banqueiros centrais aproveitam para anunciar novas políticas ou medidas.
O que o mercado espera da edição de 2022 do Jackson Hole
Há uma expectativa entre investidores e especialistas sobre o que os órgãos de controle monetário planejam para a atual conjuntura global. O discurso de Jerome Powell, atual presidente do FED americano, é o mais esperado. “Um dos pontos de atenção na fala de Powell é se o FED manterá o diagnóstico de que a economia americana segue saudável, com mercado de trabalho aquecido e a inflação ainda elevada”, avalia Luciano Costa, economista-chefe da Monte Bravo.
Para Costa, outro ponto de atenção está na sinalização de que o ciclo de alta de juros deve elevar a taxa de juros básica para 3,75% a 4,00% a.a. “E mais importante, a indicação de que esse patamar de juros será mantido por um período prolongado, visando ancorar as expectativas de inflação e promover a convergência da inflação para a meta de 2,0%”, ressalta.
Os juros altos e a inflação nos Estados Unidos desencadeiam reflexos na economia global, impactando a flutuação do câmbio e os preços de ativos negociados nas Bolsas de Valores de todo o mundo. Além disso, investimentos públicos e privados também são atingidos.
“Os mercados estão tensos com o evento devido à incerteza a respeito do ritmo de alta dos FED Funds e o ponto final do ciclo de aperto de juros. A última entrevista de Powell, após a reunião do FED de julho, foi interpretada como mais dovish (suave), e o discurso de amanhã é uma oportunidade de corrigir essa avaliação. Nas últimas semanas, os dirigentes do FED têm sido mais duros nos seus discursos”, diz Costa.
Para o economista, a confirmação do discurso mais hawkish (contracionista) deve levar a taxa de juros dos títulos de 10 anos a subir para o patamar entre 3,15% e 3,20% a.a, o que provavelmente deverá provocar uma realização das bolsas americanas e o fortalecimento do dólar frente às outras moedas.
“Reavaliando restrições sobre a economia e a política econômica”
O Simpósio de Jackson Hole tem como tema a emergência de restrições econômicas durante a pandemia, que impactaram fortemente a oferta de bens e serviços pela economia.
“Essas restrições provavelmente são originadas dos choques de oferta e desorganização das cadeias de produção, e geraram um elevado nível de inflação corrente”, diz Luciano Costa, que aponta outro debate que deve ocorrer na reunião. “A discussão sobre quanto o processo inflacionário que os EUA estão vivendo é mais persistente ou não. A questão levanta uma discussão sobre os fatores estruturais que explicam a inflação no médio prazo, como demografia, globalização e avanços tecnológicos (produtividade)”, finaliza.